domingo, outubro 30, 2005

Contrasenso convida

Apenas para vos deixar online o texto do meu convidado na coluna "Contrasenso" da Voz de Loulé de 1 de Novembro. Joaquim Mealha Costa fala sobre:
Tempo de angústia, tempo de esperança

A vida é assim. Um somatório de alegrias e tristezas. De momentos desagradáveis a que se sobrepõem outros de satisfação. Em cada tempo, podemos viver bons e maus momentos e uns compensam os outros. Afinal a vida é o equilíbrio de tudo isso, o que nos acontece de bom e de menos bom.
Também na nossa vida colectiva se aplica esse mesmo princípio.
Ouvindo e lendo o que a comunicação social nos vai fazendo chegar sobre a realidade do País, sobre as medidas do Governo, em curso, sobre o estado de espírito dos Portugueses, somos forçados a constatar que o momento é de depressão colectiva, de descrença em soluções de curto prazo, nem a chamada luz ao fundo do túnel se vislumbra.
Mas, após um acto eleitoral, em que apesar da significativa abstenção, muitos Portugueses foram votar, demonstrando que apesar de tudo, ainda acreditam um pouco que algo pode mudar, é também tempo de ter esperança.
Lendo os manifestos de campanha ou ouvindo os discursos de tomada de posse dos autarcas, mesmo os reconduzidos em novo mandato, contactamos que é seu propósito fazer mais e melhor do que até aqui. Afirmando mesmo que: é preciso adequar os serviços à sua função de servir com eficiência o cidadão, é preciso que as populações, os agentes económicos, sociais, culturais sejam chamados a participar e decidir sobre a sua terra, é preciso melhorar a qualidade de vida nas cidades e no campo…
A maior proximidade entre os autarcas e as populações ainda permitem que se estabeleça algum nível de confiança. Mas essa confiança também, rapidamente se perderá, se não houver efectiva correspondência entre o que se diz e o que o cidadão pode constatar no dia a dia, como efeitos da gestão autárquica.
Estamos pois num momento, em que perante a descrença nas soluções sistematicamente repetidas pela governação do País, se apresenta a esperança de um mandato autárquico que responderá de forma mais adequada às necessidades de desenvolvimento do município e de qualidade de vida da população.
Este será no entanto um tempo curto. Tal como o governo do Eng. Sócrates passou rapidamente de esperança a pesadelo, também no governo autárquico se exigem no curto prazo medidas que confirmem o sentido da esperança.
Hoje não é possível dar tempo ao tempo, deixar que o tempo resolva. Vivemos tempos de decisão.
Esse é o nosso grande problema, o de termos que tomar decisões sem esquecer no caso da governação, seja ela nacional ou autárquica, que os destinatários do seu trabalho são as pessoas, as de hoje e as de amanhã, que anseiam por uma vida melhor.
Esperemos que à angústia, à descrença, se sobreponha a esperança. Mas também, cabe a cada um de nós cultivar e contribuir para inverter este estado de espírito, esta realidade por vezes dolorosa.
*
[Amanhã nas bancas a edição em papel]

segunda-feira, outubro 24, 2005

Contagem decrescente,

no caminho ascendente da tese: zero horas. aqui voltarei só quando o chão parar de tremer. e o relógio reiniciar a marcha.
Nota: excepção à publicação online das colunas "Contrasenso" dos meus convidados-dias 1 e 15 de cada mês.

domingo, outubro 23, 2005

Puro prazer,

a compra do Mutts III, Mais Coijas, de Patrick McDonnell.

Ler:

«Quantas mulheres, mesmo aquelas que conhecem perfeitamente o seu corpo e todos os botões e reostatos, que exploram e deixam explorar todos os milímetros de pele que estão disponíveis e mais alguns que ficam menos à mão, são capazes (sem sentir qualquer desconforto) de dizer ao parceiro agora vou aqui bater uma e tu ficas a ver?». No Sociedade Anónima.

Similitudes

«Existe um blogue “não oficial de apoio à candidatura de Mário Soares à Presidência da República” chamado Super Mário. A coisa não deixa de ter graça e ser …infinitamente reveladora. É uma tentativa de reeditar o “Soares é fixe” de 1985...».
Pacheco Pereira (PP) no Abrupto.
«E qualquer governo, mesmo o de Sócrates, sabe que terá mais hipóteses de prolongar a sua vida útil com um Cavaco que resistiu a "presidências abertas" do que com a "magistratura de influência" de Soares.».
Francisco José Viegas (FJV) no JN .
*
O que diz PP, acima, já eu tinha dito aqui.
O que diz FJV, acima, já eu tinha dito aqui.
Ou estes homens andam a ler-me às escondidas, ou é melhor eu fechar o blogue...

Antologia de José Carlos Fernandes no "Correio da Manhã"

Como não tenho o reles hábito de guardar as pérolas só para mim, deixo-vos esta, oferecida a todos nós pelo nosso amigo Zé Carlos Fernandes. Não vá a correr às bancas sem eu ter comprado o meu exemplar. Se assim for, escondo já a preciosidade!:

«No próximo domingo, dia 23 de Outubro, vou aparecer no "Correio da Manhã" sem q para tal tenha que atacar uma velhinha com um taco de baseball ou roubar o carro do padre de Querença e ir conduzir em contramão para a Via do Infante, após assaltar uma bomba de gasolina famosa na Fonte de Boliqueime.
Por outras palavras, nesse dia, o infame pasquim "Correio da Manhã" vai "oferecer" (no esquema jornal + livro: x euros) aos seus leitores a possibilidade de adquirirem uma não menos infame antologia de 200 pg deste vosso rastejante criado, incluída numa colecção de "Clássicos da BD: Série Ouro" (não sei bem o q quer isto dizer: julgava q para se ser clássico era rigorosamente indispensável estar-se morto, mas parece que agora basta ter o cabelo a rarear; quanto ao ouro é mais fácil de explicar, pois está visto q este golpe me vai deixar podre de rico). (...)». Zé Carlos.

sábado, outubro 22, 2005

estórias do cavaquismo futuro

A apresentação da candidatura de Cavaco Silva, também foi fértil em fait-divers:
1. Anabela Neves, da Sic, a chamar Maria Aníbal Cavaco Silva à mulher do candidato;
2. No final do discurso do candidato independente e profissionalmente apolítico, a JSD a gritar: "Cavaco amigo, a Jota está contigo!";
3. Na apreciação do PS ao discurso de Cavaco, Vitalino Canas - tal como Valentim Loureiro nos tempos de Guterres: "... não ficou claro o que o Pres ....ââ ... Professor Cavaco...".

quinta-feira, outubro 20, 2005

Atenção:

Hora de parar tudo: a tese, as aulas e mais prosaicamente, o almoço. É que Cavaco Silva chegou mesmo agora para almoçar no Grémio Literário. E pediu espargos, sargo e vinho da herdade do seu director de campanha. O mundo parou e até a gripe das aves congela até às 20 horas, em Belém. Só não gostei de ver a minha fadista preferida na mesa do almoço. Do resto gostei tudo, como se percebe.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Olhó Jardel!

E eu pensava que esta gente tinha o sentido da decência. Ou um maior "sentido de estado". Primeiro foi o Soares é fixe! Agora é o Super-Mário.

Desorientação

Afinal o sono levou-me a outras paragens. E o melhor é falar de sociedades anónimas, aquelas em que não se conhecem os ricos que são sete vezes mais ricos que os pobres, isto no dizer de gente rica insuspeita. Ricos como aqueles que agora andam tão assustados com os seus escritórios e bancos vasculhados pela devassa da polícia, os homens que são tão importantes para a sobrevivência económica do país, Salgado dixit. Mas a sociedade anónima de que eu quero falar é outra: jovem, irreverente, femina sapiens, ai as mulheres quando se juntam, Francisco. Beleza pura! Vão mas é ler aqui.

Pré-post

Não sei se escreva sobre a comoção de Dias da Cunha, entre os seus dois despedidos, sobre o plano radical do governo para a erradicação das aves infectadas, sobre o minuto 29 do Vilarreal-Benfica, sobre a OTA e o TGV no OE de 2006, sobre os scones da reunião da comissão política de Mário Soares, sobre... Desculpem lá, vou dormir e amanhã decido.

terça-feira, outubro 18, 2005

Ataíde Oliveira

O texto de Luís Guerreiro, na coluna "Contrasenso" da Voz de Loulé, vertido mesmo num post aqui por baixo, - sobre o monografista Ataíde Oliveira - suscitou uma réplica do António Baeta Oliveira, do mesmo nível de qualidade que aconselho vivamente a lerem. É só clicar no nome sublinhado.

segunda-feira, outubro 17, 2005

A ler

«Aves: truz truz
Erguem-se barreiras nos céus às aladas arribações. Por causa da gripe. Dizem. Sabemos de ciência escrita que se não puserem cá os ovos os filhos morrem à nascença. As que não dão sinais de fome e pobreza seguem pela via verde.»

Paciência de Job

Em final de trabalho, a edição do 3º CD do catálogo "Tradição Musical de Loulé", desta feita sobre Outras Músicas: paciência, muita paciência para ouvir e seleccionar as nossas gravações de há mais de 20 anos no barrocal do concelho. Agora é ouvir com muita atenção, rever o estudo para o booklet e esperar, para todos ouvirmos.

Co

Adrianse só viu lenços brancos nas mãos de benfiquistas. Mentiu. Mas os adeptos do Benfica também podem dizer adeus a um treinador que também disse que quando os visse iria embora. Não foi e depois diz que nunca o disse. O FCP merece-o.

domingo, outubro 16, 2005

CONTRASENSO convida

Amanhã deve estar nas bancas A Voz de Loulé de 15 de Outubro. Neste número, a coluna "Contrasenso" conta com a participação de Luís Guerreiro, com um trabalho sobre Ataíde Oliveira, que pode ler aqui:
*
Ataíde de Oliveira, Benemérito do Algarve
Quem o assim apelidou, entre outros encómios, foi o grande Mestre e sábio Leite de Vasconcelos nos primeiros anos do séc. XX. Francisco Xavier de Ataíde Oliveira morreu em Loulé, em 20 de Novembro de 1915, portanto, há exactamente noventa anos. Foi um notável investigador, escritor, jornalista e sobretudo um grande monografista. Pode-se discutir o estilo, se era ou não um bom prosador, se as suas obras têm muitos ou poucos erros, mas ninguém pode pôr em causa a valia do seu trabalho, a dimensão do seu legado e o pioneirismo no Algarve de muitas áreas que aflorou. É evidente que as Monografias posteriores passaram a ser mais perfeitas, tendo presente que quem cultivou o género tinha outra preparação, outros domínios do saber e outras facilidades de investigação. Por exemplo Estanco Louro que escreveu uma excelente Monografia de S. Brás de Alportel tinha formação académica adequada com conhecimentos de arqueologia, etnografia e epigrafia. Ataíde Oliveira era Bacharel, formado em Teologia e Direito pela Universidade de Coimbra. Julgo que depois de receber as Ordens de Diácono e Presbítero, nunca exerceu o sacerdócio, embora fosse carinhosamente tratado por muitos louletanos por Padre Ataíde ou simplesmente por Padre pelos adversários políticos. Ataíde de Oliveira era do Partido Regenerador e um grande amigo e correligionário do grande Louletano Dr. Marçal Pacheco, político de grande prestígio, Deputado e Par do Reino . Aliás, diz-se que foi graças a esta amizade que Ataíde Oliveira ficou devendo a sua nomeação para Conservador do Registo Predial de Loulé, porque como era padre estavam-lhe interditos a ocupação de certos cargos públicos.
Ataíde Oliveira fundou o primeiro jornal que Loulé teve, em 31 de Março de 1889, “O Algarvio” e colaborou com dezenas de periódicos.
Da sua obra publicada em livro deixou-nos os Contos Infantis, Mouras Encantadas, Contos Tradicionais, Romanceiro do Algarve, Biografia de D. Francisco Gomes de Avelar e Memória do Bispado do Algarve e Monografias de Loulé, Algoz, Olhão, Alvor, Vila Real de Santo António, S. Bartolomeu de Messines, Paderne, Estombar, Porches, Luz de Tavira e Estói. Temos que admitir que perante uma tão vasta bibliografia, aliada à permanente actividade jornalística, numa época em que o Algarve estava praticamente isolado do resto do País, com dificuldades de acesso à Torre do Tombo, aos Arquivos Públicos e à inexistência de boas Bibliotecas, o seu labor deve ter sido extremamente difícil e extenuante. O que lhe valeu foi uma boa rede de conhecimentos pessoais, em particular os Padres das freguesias e muito especialmente o povo, guardião de tradições e saberes que não estão escritos em nenhum lado. Conta o Dr. Guerreiro Murta, que o conheceu pessoalmente, que Ataíde Oliveira convidava as pessoas mais idosas das freguesias a virem ao seu gabinete de Conservador do Registo Predial, onde mercê da sua simpatia e trato fácil, registava estórias, contos e velhas recordações, pagando aos mais pobres um pataco (40 réis) por cada lenda e conto ou por cada feixe de quadras. Foram estas pessoas a principal fonte do seu trabalho. Quando Ataíde Oliveira morreu em 1915, na terra que ele escolheu para viver ( ele era natural de Algoz- Concelho de Silves), Manuel Viegas d´Olival escreveu num jornal de Loulé, “O Primeiro de Maio”: “ O que o Algarve lhe deve, desculpai-me a franqueza é quase ignorado no Algarve. As suas obras literárias sobre o Passado e os encantos do Algarve elevaram-no à categoria mais alta dos homens de Letras do nosso País. Ataíde Oliveira trabalhou pela sua Província e por esta terra como um fanático trabalha pelo seu ideal”.
Quando em 2005, se assinalam noventa anos sobre a sua morte e no Algarve se comemora uma Capital da Cultura, com um Programa diversificado em vários domínios, entre os quais um conjunto de conferências sobre Ilustres Personalidades das Letras do Algarve, é pena que ninguém se tenha lembrado do maior Monografista do Algarve e um dos maiores regionalistas de sempre, com todo o significado que isso possa ter. É certo que uma Editora privada nos últimos anos tem vindo a reeditar a sua obra, que o Dr. Mário Lyster Franco tenha proposto em 1930 uma grande homenagem ao insigne investigador com a colocação do seu busto no Largo de S. Francisco em Loulé, mas neste ano especial nem uma palavra sobre Ataíde Oliveira, nem um Colóquio, um folhetozinho, um Workshop, uma medalha evocativa. Tenho esperança que ainda se faça qualquer coisa.

[Luís Guerreiro]
*
nota: a coluna em papel é acompanhada de uma foto de Ataíde Oliveira.

Benfica

O erro de Baía - ao contrário de Koeman - foi ter convidado Nuno Gomes para o seu aniversário.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Os golos

Os embevecidos com os recordes, não sabem fazer contas. Dizem que Pauleta ultrapassou o recorde de golos de Eusébio. Fez mais um golo, em treze jogos a mais. Onde é que está o recorde?
Entretanto Medeiros Ferreira acha que tudo isto é por ter caído um mito do salazarismo. Afinal, salazarismo é fazer deste fait-divers, um mito.

Harold Pinter

O homem dos "diálogos banais", que escrevia as peças para si e falava publicamente para os outros, venceu o prémio nobel da literatura. Não foi o primeiro dramaturgo a receber o prémio. Antes, já Dario Fo, o autor de Um homem é um homem, o havia recebido.

quinta-feira, outubro 13, 2005

a ler

eleições

sim, eu sei que devia falar das eleições na minha terra. mas dizer o quê? talvez a expressão "é a cultura, estúpido!".

Reflexão

Compreendo que a reflexão seja necessária. Mas uma reflexão nunca poderá ser eterna, sob pena de se tornar a confissão eterna do pecador. Ora, uma reflexão exige uma evidente flexão, uma descida terrena aos crentes que precisam de ler para crer. Mesmo que tenha acontecido um desastre.

terça-feira, outubro 11, 2005

Mais leituras

Uma das minhas revistas de leitura na Net: Semana 3. Este mês com uma entrevista a Paulo Francis, sempre divino, feita pelo seu melhor colunista. Claro, Alexandre Soares Silva.

Leituras castas

Jeitinho
Sou proselitista. Creio que o cristianismo é a única religião verdadeira e que toda a pessoa deve converter-se ao Senhor Jesus. Mas sou um proselitista gentil. Não meto conversa com ninguém para lhe falar das coisas espirituais. É pouco educado e de estilo tem zero (o cristianismo converte com estilo).O apelo dos evangélicos à conversão dos outros chega a ser abjecto. Uma extrema-unção a meio da vida. Parecem desesperados para que todos emitam a mesma prática litúrgica, mastiguem a mesma hóstia, sincronizem o mesmo aleluia. A vantagem de um proselitista gentil é que sendo calvinista e descrendo do livre-arbítrio, como eu, concede que nem todos nascemos para o mesmo. Que é como quem diz, posso sentir-me bem mas tu podes sentir-te bem sem te sentires bem do modo como eu me sinto bem. Não é relativismo moral. É tratar a vontade das pessoas com jeitinho.

Regressos

É bem sabida a dificuldade de encontrar jaquinzinhos no mercado blasfemo do Porto...

segunda-feira, outubro 10, 2005

Sim, a chuva caiu

lavou o pó do chão e reverdeceu as árvores. estava fria no dorso. mas ainda não lavou tudo. faltam as almas penadas.

sábado, outubro 08, 2005

Leitura de fim de semana

Para ler neste fim de semana de reflexão e eleição, nada melhor que a obra completa de Margarida Rebelo Pinto, com a arguência pachequiana de João Pedro George.

Trabalhos de Hércules

1. O arquivo do Lobo foi acrescentado de mais três crónicas antigas: sobre Maria Rosa Colaço, pedagoga; as mulheres no sistema político; e democracia, futebol e apito dourado (tudo publicado em A Voz de Loulé).
2. O estudo sobre o folclore em Alte foi acrescentado com as pequenas biografias dos três homenageados nas comemorações do 67º aniversário do Grupo Folclórico de Alte.
3. O meu blogue académico mudou de nome.

Os piores cartazes da campanha

O Algarve consegue colocar quatro (4) nomeados no conjunto dos 14 piores cartazes da campanha eleitoral autárquica. O primeiro nomeado é mesmo o cartaz de Fialho Anastácio do PS de Tavira. Pode ver os piores cartazes e votar no seu eleito aqui.

Esclarecimento do "Público"

O livro de estilo do Público permite que exijamos do jornal uma resposta a esta micro-causa:

quarta-feira, outubro 05, 2005

67 anos do Grupo Folclórico de Alte

Faz hoje 67 anos que a aldeia de Alte andava em polvorosa. A terra participava no Concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal e era o dia em que o júri nacional a visitava, para deliberar sobre a sua eventual selecção. Essa é outra história para outros locais. Nesse dia, um grupo de gente dançou as modas de roda, o baile mandado e o corridinho em vários sítios da aldeia. Foi a primeira actuação pública daquele que viria a designar-se como Grupo Folclórico de Alte (GFA), hoje ainda existente e, por isso, a comemorar exactamente 67 anos.
Vem isto a propósito da investigação que estou a realizar, há meio ano, sobre a história do GFA, a convite da sua direcção e com vista à publicação de um livro. Acontece que a investigação – de acordo com a minha ética – tem estado no campo privado, sendo do conhecimento de alguns amigos e dos membros do GFA, naturalmente. Como a minha opção metodológica se inscreve numa perspectiva participativa, os dados da investigação são partilhados com muitas pessoas, tendo alguns deles sido já publicados (os que estão prontos para o efeito). Parte desse material tem estado guardado num suporte cibernético como reserva da investigação. Hoje, exactamente no dia do aniversário do GFA, decido abrir o blogue Folclore em Alte à curiosidade alheia e à sua eventual participação.

terça-feira, outubro 04, 2005

Intelectual leninista

Para que raio precisavam os bejenses, ouvintes de Jerónimo de Sousa, de saber que Jorge Coelho em tempos pertencera ao radicalismo pequeno-burguês?

segunda-feira, outubro 03, 2005

O anonimato da cobardia

O aparecimento do Folhadalte foi uma lufada de ar fresco no jornalismo online no Algarve. Se pensarmos nas pequenas aldeias do país, esta experiência pode ser considerada pioneira e de vanguarda na cidadania tecnológica. Mas estes suportes estão sujeitos a vilipêndios de todos os tipos. Em geral de gente sem auto-estima, que habitualmente se esconde no anonimato e em pseudónimos abstrusos, com vista à ofensa e ao boato. Tive a oportunidade de colaborar com o Folha, deixando vários comentários e alguns artigos. Sempre assinados, e com o link para o meu blogue onde também está o meu nome. Muitas destas participações deixaram lastros de polémica. E aí apareciam sempre os cobardolas, escondidos na insídia, na maledicência e até na ameaça. Por isso era de esperar que o Folha, neste contexto de eleições autárquicas, sofresse um ataque na caixa de comentários. Esperemos que o Zé e o Rui expliquem melhor o que se passou e que, apesar de algumas dificuldades, possam identificar e proceder judicialmente os seus autores.

domingo, outubro 02, 2005

Alegre na 2ª volta

Quando o jornalista lhe perguntou se apoiaria Soares caso este passasse à 2ª volta, Alegre foi contido: Claro, não teria problema em votar nele. Mas, de seguida, foi lapidar e talvez premonitório: Mas parece-me que é ele que vai ter de votar em mim. Entretanto Carvalhas, ex-secretário geral do PCP, apoia Alegre. Entretanto, ontem, José Fanha declamou um poema de Alegre perante a Casa do Povo de Alte, bem cheia. Não quererá dizer nada, mas pode dizer tudo.

sábado, outubro 01, 2005

"Contrasenso" convida

Maria Amália Cabrita é a convidada da coluna Contrasenso, em «A Voz de Loulé» de 1 de Outubro:
*
A metáfora dos incêndios

A propósito dos fogos que queimaram uma boa parte do país durante os três últimos meses, naturalmente que muito se falou, escreveu e – talvez mesmo – ouviu em Portugal.
Em várias dessas comunicações, os incêndios ganharam um conteúdo simbólico, que os tornou ainda mais assustadores e negativos do que já eram. Graças a esse conteúdo, tornaram-se numa espécie de reflexo da debilidade nacional. A sua existência, o seu número e mesmo a sua extensão provaram – mas quem precisa agora de provas? – a incapacidade da sociedade portuguesa para prevenir e remediar catástrofes, bem como a descoordenação dos serviços do Estado. Indo um pouco mais longe, em algumas opiniões os fogos já não se limitavam a reflectir essa anomia social: eram vistos como sua punição, tal como se algum Jeová reformado e já sem a capacidade de expedir cometas os tivesse enviado para fazer reentrar os portugueses no caminho da “ordem e progresso”.
Em resumo, os fogos abriram e fecharam os noticiários, foram as figuras do mês e quase todos os candidatos a escrutínios próximos os visitaram (metaforicamente, como se compreenderá dadas as altas temperaturas que irradiam das matas durante a combustão).
Poderá valer a pena averiguar o que há de instrutivo nesta piromania colectiva. Não à maneira dos Plutarcos e das lições da História (da qual nem o próprio Plutarco fazia assim tanto caso) mas com a ilusão de encontrar pequenas verdades domésticas.
Está fora de dúvida que a consciência colectiva identificou bem o objecto e viu bem porque é que com os fogos não se brinca. Os fogos estivais já são o nosso ex-libris, aquilo por que somos conhecidos em todos os países que sintonizam a Euro-News (quanto aos outros, é impossível dizer como ou se nos recordam).
Também é um facto que os ditos fogos só acontecem em Portugal porque a nossa sociedade é na Europa aquela que mais se parece com a que Thackeray descrevia como “anarquia completa, tendo só a polícia a mais”. Para que isto não pareça muito excessivo, bastará recordar-nos:
1º, do que foi a compra desenfreada de terrenos por parte das celuloses nos últimos 25 anos e a correspondente eucaliptização do país que o tornou um previsível coktail molotov desde 1985 (!). Temos a maior mancha de eucaliptos da Europa e veja-se sobre isto um dos relatórios da OCDE desse ano sobre Portugal, que alertava para a combustibilidade acelerada que o país estava a ganhar;
2º, do que foi o abandono quase completo da agricultura, que aliás está na base da florestação comercial do ponto anterior, sem ninguém ligar um chavo ao que ia acontecer quanto à limpeza das matas (e que matas!) no futuro;
3º, do ordenamento territorial e dos famosos PDM, outro dos nossos ex-libris que, da forma libertária que nos caracteriza, só excluem a construção de casas nos braços de mar e nos lagos (em certos cursos de água, quando secos, existe direito consuetudinário favorável);
4º, do pormenor pitoresco de Portugal ser o único país da Europa do sul sem frota aérea de combate a fogos, não sendo este facto consensualmente negativo (muitas empresas de aluguer de helicópteros acham isto natural);
5º, do zelo com que todos os anos se reformam os serviços de coordenação e se vão acrescentando instâncias, órgãos (com as correspondentes siglas e postos de chefia) e centros de comando;
etc, etc.
Quando se pensa nisto tudo, não há que fugir, os fogos ganham um estatuto de consequência inevitável. Estiveram aí porque não podiam deixar de aparecer, tudo estava a pedi-los. Ah, e nem é preciso ir buscar os efeitos de estufa ou coisa que o valha, mesmo que isso se possa provar. Estavam reunidas todas as condições e a verdade é que o país, lá no fundo, estava à espera deles.
Mas isto basta para fazer deles metáforas? Talvez ainda não. As borbulhas são um sintoma do sarampo, não são a metáfora do sarampo. Os fogos de verão são as consequências do nosso estado civilizacional, não o simbolizam.
Mas há um aspecto em que talvez legitime o uso metafórico que a nossa comunicação social fez deles e que aí sim, representam bem a nossa sociedade. É o seu carácter meteórico, efémero (flamejante aqui parece um adjectivo um pouco de mau gosto) e sazonal. Os fogos tiveram a sua hora de glória mas – sic transit gloria mundis - já passou. Agora já a Casa Pia e tuti quanti recuperaram o seu lugar. Em Dezembro teremos, espera-se, o protagonismo de Reguengo do Alviela e das zonas baixas do Ribatejo. Os fogos terão de esperar por Junho e pela nova época balnear para voltarem a ser entrevistados.
Enfim, se há metáfora é esta: os fogos são previsíveis, como tudo o que acontece por cá.

O regresso do Marquês de Pombal

Sebastião José de Carvalho e Melo não faria melhor slogan de campanha.