quarta-feira, agosto 31, 2005

Alegre e tropo [actualizado]

Foi triste e feio Alegre ter acusado o PC e o Bloco de um acordo com o PS, para o apoio a Mário Soares. Foi a pior forma para obscurecer a sua justificação na recusa em se candidatar. Não quer perceber que à sua volta não está ninguém, porque os potenciais apoios internos não estão dispostos a perder os lugares no comboio de Soares que está há muito em andamento. Se fosse realmente corajoso avançava, mesmo sem o apoio do seu partido. Mas isso – tal como um amante despeitado ou um amigo traído – ele não foi capaz de o fazer. Tal como eu já tinha previsto aqui, há dias.
*
A propósito de candidaturas presidenciais, não deixa de ser interessante o retrato de Mário Soares por Manuel Alegre no livro Retrato, da Livraria Clássica Editora, 1990. Passo a citar os últimos três parágrafos do artigo com o título "RETRATO DE MÁRIO ENQUANTO MÁRIO":
*
" E talvez seja a grande revolução que ele fez num país cansado de crispação: trazer a afectividade para a política. É, a par da coragem, a sua arma mais eficaz. E por isso ele é de facto, irresistível. E também imprevisto. Com o Mário, o inesperado pode sempre acontecer. Desenganem-se os que o julgam sentado sobre uma por vezes aparente lassidão. De repente ele salta. Para sacudir o marasmo e de novo forçar o destino. Sempre que tal acontece, o telefone toca em casa de alguns amigos. Fica-se então a saber que há uma nova caravela e uma nova partida. Às vezes um combate. Às vezes um desígnio, um sonho, uma inquietação, o que é também uma forma de poesia."
(Pedro Souto) - No Abrupto.

Agradecimento

Regressado de férias, devo agradecer à Junta de Freguesia de Monte Real que, apesar de abrir só uma vez por semana, à noite, me facultou o acesso à Rede. E à biblioteca da Marinha Grande. E a todos os leitores e amigos que leram, deixaram comentários e colocaram excelentes contributos na caixa.

Prós e Contras

Só para referir que o debate do Prós e Contras de ontem na RTP1 e repetido hoje na RTPN, acerta as agulhas no sentido da análise do que escrevi aqui mesmo em baixo. O que prova que está a acontecer um consenso muito interessante na sociedade que pode permitir uma compreensão da verdadeira origem do problema do fogo: razões civilizacionais do nosso povoamento social. E pouco mais que isso. O que tenho tentado pensar sobre o assunto é um ponto de vista sociológico e não meramente técnico.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Causas estruturais dos fogos

Agora toda a gente anda a descobrir a pólvora: o problema dos incêndios não se resolve com mais meios e melhores prevenções. Finalmente as causas do problema são equacionadas pelo presidente da república e pelo governo. Até os jornais começam a aceitar que a floresta precisa ser reordenada, talvez até mesmo repensada se necessitamos dela ou não. Sem atacarmos as causas estruturais - que passam por plantar floresta, com as espécies adequadas e descontinuada de regadio e sequeiro, limpa e ordenada - não se resolverá nunca os incêndios e o país continuará a plantar combustível para queimar bens e vidas. Mas perante isto, a direita já vem bradar que o estado tem medo e está sem soluções. Este é um conflito permanente entre esquerda e direita. A direita pretende atacar as consequências com meios e vidas. A esquerda pretende atacar as causas, poupando bens e vidas. É uma grande diferença que há muito vimos defendendo, sobre este e outros problemas sociais.

Ilegalidade na Ria Formosa

A história da demissão do director do Parque Natural da Ria Formosa, devido à desautorização de que foi alvo por parte dos responsáveis do estado (ministro do ambiente e director do ICN) com a alegada pressão do presidente da Câmara de Tavira, precisa de explicação. Macário Correia é ainda presidente da Área Metropolitana do Algarve e já foi secretário de estado do ambiente. Na altura defendia a demolição das casas ilegais na Ria Formosa. Agora aparece a defender o contrário: a implantação de um apoio de praia na duna primária da ilha de Tavira é contra a lei e uma provocação ao Plano de Ordenamento da Orla Costeira. E o mais grave, é que o ministro do ambiente do governo PS foi a favor.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Piano Man

Como já se previa, o Piano Man era uma farsa. Claro que a farsa foi montada pelo próprio, fruto de uma personalidade marcada por frustações várias – de género, fundamentalmente – mas o que nos interessa aqui foi a farsa montada pelos media, num misto de sensacionalismo e de falso altruismo. Foi a blogosfera que mais uma vez acertou nas suposições e nas análises sobre o caso. A propósito, é interessante ler a coluna de Vital Moreira no Público de hoje, sobre o chamado quinto poder.

Monodocências

Um estudo da Universidade de Coimbra mostra que a transição do 1º para o 2º ciclo é traumática, deixando muitos dos alunos retidos no 5º ano de escolaridade, em escolas onde convivem com alunos mais velhos, normalmente até ao 3º ciclo. Alguns dos sintomas dos traumas e conflitos da transição são apontados como sendo a pressão para a iniciação no álcool e nas drogas. As estratégias de resolução admitem a necessidade de um maior envolvimento dos pais no acompanhamento dos filhos, um maior contacto com os professores e uma relação saudável com os colegas de turma. O estudo não toca – e seria interessante ter dados científicos neste campo – na situação das escolas básicas integradas, nas quais os alunos circulam entre o 1º e o 3º ciclos no mesmo espaço físico e escolar. Sobretudo, o estudo não aborda um aspecto decisivo no âmbito da transição entre ciclos e que tem vindo a ser defendido por vários pedagogos, sobretudo em experimentações no 1º ciclo. Referimo-nos ao fim da modocência no 1º ciclo, que permitisse a assunção de mimetismos e modelações dos alunos a partir, não de um professor mas de vários, como acontece quando ingressam no 2º ciclo. A introdução do inglês no 1º ciclo poderia ser uma oportunidade para a reformulação deste aspecto. Talvez seja mais uma oportunidade perdida, do actual governo, na área da educação.

terça-feira, agosto 23, 2005

Blair's

Nada que não tivéssemos previsto: o caso do assassinato de Jean Charles de Menezes, cidadão brasileiro morto em Londres, foi uma invenção da Scotland Yard e do seu principal responsável Ian Blair. Afinal não havia fuga, gabardine ou movimentos suspeitos. A polícia inglesa portou-se mal, mas os directores da polícia criaram uma fachada para os jornais que agora é desvendada. Tal como com o Iraque – salvo as devidas distâncias – a manipulação das informações, sobretudo quando ligadas a problemas de terrorismo ou guerra, ocultam outros interesses tão maléficos e pérfidos como os que se afirmam combater.

Alegre ma non tropo

Sei pelo Público que Alegre reune um jantar de apoiantes no Algarve. A sul nada de novo sobre a candidatura à presidência da república, mas o putativo candidato lá vai dizendo indirectamente que Soares não é o rei da democracia e que espera um sinal dos seus apoiantes, que Soares diz não ter. Seria interessante ver até que ponto o papel de Alegre neste combate possa vir a ser o mesmo das primárias do PS: servir de lenitivo a algumas consciências do partido que estão fartos de Soares, como estavam de Guterres et pour cause, de Sócrates. O exemplo de Carrilho, que disse e desdisse a sua discordância de Soares é essa ponta de iceberg. Será?

sexta-feira, agosto 19, 2005

A ler

as duas crónicas de Fernando Pessoa no barlavento online, sobre o estado do Algarve. Uma aqui e a outra aqui. Enquanto não posso editar os meus posts sobre o assunto. E antes de sair a minha próxima crónica no barlavento, que abordará aspectos idênticos.
*
E já agora, leia o que dizem alguns presidentes de Câmaras do Algarve.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Millôr

Millôr é do Melhor!

Monoculturas

Continuam as lamentações, cíclicas, da crise do turismo, no Algarve em particular. Menos procura, baixa de clientes, as culpas do 11 de Setembro, seca, incêndios. Mas alguém vê a falência das empresas ligadas a este sector? Eu continuo a ver crescer o betão nas falésias, os greens a invadir o barrocal e a serra e cafés e restaurantes por tudo o que é casinha trespassada. Sempre avisámos que a monocultura daria nisto.

Sin City

Vejo Sin City, baseado nos contos gráficos de Frank Miller, um dos meus banda-desenhistas preferidos da actualidade. A escolha do preto e branco torna New York ainda mais visível, nas cores dos lábios sensuais de Goldie, ou nos sapatos de Dwight. A mão de Tarantino está lá, como em Rain Dogs: selvagem, elegante, pérfida. E nunca Mickey Rourke esteve tão bem, a fazer de herói.

A agência de viagens Lemming

Longe de Loulé, uma notícia da santa terrinha: José Carlos Fernandes continua a espalhar o seu grande talento, todos os dias, na penúltima página do DN: A Agência de Viagens Lemming já vai no nº 47 (quando edito).

Um fogo que arde sem se ver

O Bloco de Esquerda propôs ao governo a negociação com as televisões para que estas evitassem imagens de incêndios em desenvolvimento, passando apenas imagens de áreas ardidas. Sabe-se que as televisões já conversaram sobre a medida, cujos efeitos podem diminuir os estímulos nefastos em indivíduos sensíveis do ponto de vista psicológico ou mesmo social. Sabe-se de um caso em que uma octogenária pega fogo para que as televisões falem da sua aldeia. Um realitty show em chamas. Uma boa medida quando se conhece o elogio consensual às imagens das cadeias de TV britânicas no tratamento das notícias sobre os atentados de Londres.

Publicidade ou informação

Pois é, o BPI teve publicidade gratuitíssima com o programa da BBC em que Gary Linneker entrevistou José Mourinho. Em vez do título original “The Special One”, a RTP, não se sabe ainda porquê, mudou o título para “Ganhe Como Eu”, exactamente o tema da campanha do banco em causa, em que o treinador é a principal personagem.

Civilizações

Paulo Varela Gomes (PVG), em excelente artigo no Público (11/8), defende que os problemas do país não se compadecem com paliativos, quer sejam no campo da prevenção dos incêndios, ou nas medidas de ordenamento do território ou ainda na poupança de energia. A sua tese – muito interessante diga-se – é a aposta numa alteração substancial de civilização, a única capaz de, com medidas estruturais, modificar a facies do país empobrecido, a morrer em lume brando. Uma mudança de regime, com novos políticos, que deixassem para trás as hesitações daquilo que ele chama a III República. A acompanhar a ideia.
*
[Link para a transcrição do artigo do PVG, por gentileza do José Pimentel Teixeira]

terça-feira, agosto 16, 2005

Big brothers

Carrilho pretende colocar câmaras de vídeo-vigilância nalguns bairros de Lisboa, entre os quais o Bairro Alto. Armado em big brother, o candidato quer mostrar que isso defende a segurança dos cidadãos. Uma medida populista de um filósofo que gosta de se armar em provinciano em Lisboa, tal como se arma em doutor em Viseu. Uma ideia que lembra um dos seus émulos: Santana.

Calor frio

A passar férias no distrito que mais ardeu este ano, ainda não vi as cinzas sobre as pedras, nem as árvores em carvão vegetal. Mas sinto-lhe o cheiro, um odor que circula nas aragens baixas. Mas sobretudo um calor frio nas faces das pessoas.

Opinion makers

Os editoriais dos jornais de referência, DN e Público, que normalmente são escritos pelos seus directores, são pródigos em lavra opinativa sobre a democracia e sobre os meandros da governabilidade. Normalmente são pequenas redacções sobre factos quotidianos retalhados em patchwork para compor uma narrativa com um final surpreendente. Mas, quase sempre, só o final surpreende. O que não deixa de ser sintomático para quem quer ser opinion maker.

Regressos

Fátima Rolo Duarte regressa, provisoriamente, às páginas do DNA, suplemento do DN. Ainda não posso lê-la como Camila Coelho, um pseudónimo que esconde uma jornalista que sabe escrever sobre as ruas de Lisboa, os belos cafés e as estéticas humanistas das cidades. Quando regressar, avisem.

Uma história mal contada

Numa biografia de Fidel Castro, no DN, a autora resume a luta dos revolucionários cubanos a uma noite do ano de 1958 e a um dia do ano de 1959: na noite de fim de ano Fulgêncio Batista foge de Cuba; no dia de ano-novo Fidel entra em Havana. Está contada a história.

Lula

Lula, no Brasil, está a ser pescado com uma toneira?

quinta-feira, agosto 11, 2005

quarta-feira, agosto 10, 2005

O Direito à Preguiça

Este é o meu manifesto durante todo o mês de Agosto. Mas não se fie nele. O melhor é copiá-lo e guardá-lo a sete chaves dentro da sua máquina. E todos os santos dias ler um parágrafo, de modo a saboreá-lo com felicidade. E no fim do mês não receba salário nem regresse ao trabalho.
[E obrigado pela casmurrice]

Deve e haver

Esta tornou-se uma moda irritante e estúpida. Não são só os divinos locutores das Tv's. São os colegas professores e os alunos a debitar miseravelmente "não tem a haver" ou "tem a haver" referindo-se à relação entre qualquer coisa. Explicar-lhes que o deve e o haver são conceitos da contabilidade e não da interrelação semântica, é o esforço. Mas a culpa é dos media que tudo atropelam e tudo contagiam.

terça-feira, agosto 09, 2005

Estatísticas

Sabes que aquilo que gosto mais de ler são as tuas entradas sobre a tese: desmistifica-a, torna-a vulgar, embrulha-a em histórias de vinhos, mulheres bonitas, neve, inureses que batem à porta. É isso que torna bela qualquer entrada sobre a tese. E eu quero lá saber se o sitemeter declina.

Proximidades selectivas

Pois. Lá estavam eles, branquelos, a esfregar creme, suavemente, sobre os ombros e sobre as costas. Sentadinhos à sombra das palhotas de esparto, liam os jornais do dia. Um, que já foi líder do partido que agora se opõe, talvez lesse um suplemento do Notícias, um daqueles que falam das férias, das praias do Algarve onde se brozeiam os próximos candidatos presidenciais. O outro, uma espécie de dom Sebastião do mesmo partido, homem de finanças que sabe o que quer para a nação, lia o Público, a última página, talvez a coluna do Vasco Pulido Valente a cascar no Sócrates, mais ou menos a única coisa que ele sabe fazer. Estavam ali os dois na proximidade geográfica das dunas. Mas nunca uma proximidade foi tão longínqua.

A ler

um manifesto de leitura do Comércio do Porto. De como se amou um primeiro ardina.

Tolerâncias

«(...) É um balanço difícil de ser alcançado, reconheço: entre tolerância real, e secreta, e intolerância fingida e ostensiva. Mas leitores inteligentes deveriam ser capazes de perceber isso, nossa secreta tolerância charmosa, em qualquer bom texto – sem que tenhamos que cometer a grosseria espantosa de afirmá-la com clareza.». Todos os tipos de tolerância na coluna de Soares Silva na revista Semana 3. Leia tudo aqui.

domingo, agosto 07, 2005

Palha seca

É verdade que o sueste acalmou em terra e no mar. Mas em terra continuam os fogos e a endémica auto-comiseração sobre os meios e a prevenção. Apenas os pobres trabalham, ao sol dos 40 graus, limpando terras e apagando fogos, quase num dever de sobrevivência. Se não morrem à fome, morrem do fogo. E o governo? O primeiro-ministro passa férias no Quénia, o ministro dos incêndios calado que nem um rato. Certo, certo é que se percebe que o partido socialista não dá conta do recado, não percebe o mundo rural e portanto as verdadeiras causas dos fogos. Sobre isto não vale a pena dizer mais nada. A intelectualidade e os bem pensantes do PS querem o campo para mostrar o folclore dos ranchos e das compotas, andar a cavalo e dar uns tiros nas perdizes. O resto é conversa seca, palha que arde nos incêndios que nos queimam a alma.

Levante

Inevitavelmente ele chega, trazendo a calma nocturna: as árvores ficam estáticas de vento, as aves descansam o voo rasante do dia, apenas os grilos saltitam assustados nas canoiras. O ferrado do levante marca o fim das aragens dunares do Magrebe. E nós já podemos descansar.

Sueste

Lá fora continua o sueste, o levante, a bezaranha. E nós, aqui, continuamos à espera que ele passe. Sem mexer um músculo que seja, apenas ouvindo o seu rugido de sete em sete vagas.

sábado, agosto 06, 2005

A redescoberta do Brasil

Cabral descobriu o Brasil, Carmen de Miranda conquistou os Brasileiros, mas é o Mensalão que vai descobrir a careca a alguns empresários e políticos portugueses.

Comunidades

«...sempre discordei com a ideia de uma "comunidade bloguística", em particular com os componentes que lhe querem afirmar, declarados - uma "ética" própria (modus blogante), uma "amizade" comum construída num convívio - ou não - estes mais os tiques e maneirismos que se assumem.». JPT, a comunitariar na Ma-Schamba. Ler o resto, aqui.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Parabéns!

Isto de oferecer livros no aniversário da esposa, tem sempre o velho truque: oferecem-se os livros que nós queremos ler. Desta vez a Maitena, uma escritora de humor a sério.

As políticas de cultura

Fujo dos blogues para a tese. Mas é nos blogues que encontro inspiração para ela. Este texto do Pacheco Pereira é a prova cabal de que muito do que se lê e se deve discutir anda pela blogosfera. A minha tese pretende discutir isso mesmo: as representações sobre a cultura de quem faz a política cultural, nas autarquias por exemplo.

Jaquinzinhos: the last day

João Caetano Dias tinha um magnífico blogue: inteligente, cruel, cheio de humor culto. Conservador, quase sempre, era mesmo assim um prazer lê-lo pela sua qualidade de escrita. Jaquinzinhos, agora só no prato.

Concerto de Viviane em Tavira

Depois da apresentação do seu primeiro álbum a solo nas FNACs do país, a Viviane dá o seu primeiro concerto a sério, hoje à noite em Tavira: no bonito Convento do Carmo, às 21.30 horas. Não perca os Amores Imperfeitos!

quinta-feira, agosto 04, 2005

CGD II

O editor de economia do Público, a propósito da alteração da administração da Caixa Geral de Depósitos, diz que não entende como é que os partidos dizem uma coisa na oposição e depois quando chegados ao governo fazem outra. Mais um que não leu Maquiavel.

CGD I

Como é habitual, a Caixa Geral de Depósitos paga a dobrar: salários aos administradores e indemnizações aos ex-administradores.

Social-democracia

Na 2, Alberta Marques Fernandes entrevista José Sá Fernandes. A certa altura o candidato à Câmara de Lisboa diz que se perfila na linha da social-democracia. A entrevistadora espanta-se como é que um homem de esquerda pode alinhar-se neste conceito que, para ela, se resume ao PSD português. Mesmo tendo sido explicado acho que ela não percebeu.

Contrasenso convida Luís Ene

MAS QUE RAIO VOU EU ESCREVER?

Não pensei, nem por um momento, em recusar o gentil convite do Hélder para escrever na coluna "Contrasenso" da Voz de Loulé, mas fiz desde logo a mim próprio uma pergunta: Mas que raio vou eu escrever? Era uma pergunta legítima: antes de se escrever deve-se pensar o que se vai escrever.

É claro que podia apenas começar a escrever e ir por aí adiante, mas tratando-se de escrita para ser lida, e para ser lida num jornal, seria sem dúvida de pouca educação não pensar em quem me poderia ler, ou seja, para quem afinal escreveria.
E assim, pensando em quem me leria, estava afinal a pensar sobre o que poderia escrever, e a tentar responder à minha primeira pergunta. A resposta não dependeria talvez tanto do que os leitores gostariam de ler, mas sobretudo do que eu mesmo sei falar, ou dito de outra forma, sobre o que é que eu sou capaz de escrever que os leitores desta coluna gostassem de ler?
Mas antes de começar a falar sobre o que quer que seja, pensei que talvez fosse melhor apresentar-me. Talvez alguns tenham lido aqui — na “Cultura” — algumas das minhas narrativas breves, género a que tenho dado especial atenção nos últimos três anos, e com as quais publiquei um livro no início deste ano. Nesse caso saberão que escrevo, sobretudo ficção, ainda que nalguns casos reduzida ao seu mínimo. Natural seria então que falasse de escrita, e do acto de narrar, segundo um crítico o tema principal do livro que referi: o primeiro volume de Mil e Uma Pequenas Histórias.
Na verdade, contar histórias é não só um dos meus maiores vícios e prazeres, mas também um tema que considero de grande importância, para além do mais porque todos contamos histórias, e estou mesmo convencido que é isso que nos distingue como seres humanos.
Assim, falar de histórias, e de como é importante contá-las pareceu-me uma boa resposta à pergunta que me trazia ocupado: Mas que raio vou eu escrever? Isto porque é verdade que não gosto de falar de política (gosto muito mais de fazê-la), não me apetecia falar de temas mais ou menos regionais (como o Faro Capital Nacional da Cultura) e de momento não me ocorria mais nada. Estava decidido! Sabia então sobre o que ia escrever. O pior já tinha passado.
Foi nessa altura que me lembrei que o texto, seja qual fosse o tema, se deveria conter numa página A4 — a espaço simples, letra Times, tamanho 12, justificado (500 a 700 palavras) — e, como ao mesmo tempo que pensava em tudo isto, estava a escrevê-lo com um processador de texto, que confesso preferir, apesar de gostar muito de escrever à mão, espreitei a barra na parte inferior do monitor e apercebi-me que não devia estar muito longe das solicitadas quinhentas a setecentas palavras. Contei-as e não estava errado; mais uma vez se tinha cumprido uma velha máxima que tenho para mim mesmo: escreve-se escrevendo.
Espero que não se sintam desiludidos com a forma que este texto tomou, nem que tenha afinal falado apenas de mim, mas é sem dúvida o assunto que melhor conheço. E termino com uma das pequenas histórias de que vos falei.
Um dia conduziram Simplício junto de um homem ainda novo, que desistira há muito de viver, e pediram-lhe para contar uma história que o ajudasse. Simplício sentou-se então junto à sua cama, e começou a contar uma história muito bela sobre a alegria de viver. Pouco a pouco, o homem foi ganhando cores, e os seus olhos recuperaram o brilho de outrora. Foi a partir daí que o poder curativo das suas histórias se tornou uma lenda, e a sua fama de curandeiro se espalhou pelo mundo. Simplício, por seu lado, nunca deixou de se considerar um simples contador de histórias.

[Luís Ene - publicado em «A Voz de Loulé» de 1 de Agosto]
Link para a imagem que o autor escolheu e que não veio na edição em papel.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Didáctica da matemática

«Lembro-me que quando estudávamos a tabuada agarrávamos nas orelhas uns dos outros e balanceando o corpo para a frente e para trás cantávamos em coro: “ duas vezes um dois, duas vezes três seis” etc. e assim se aprendia a tabuada». D. Lourdes Madeira, entrevistada no Folha de Alte.
Esta era a didáctica da matemática nos anos 40 e 50. Os alunos desta geração são, hoje, candidatos a Belém. Os alunos da didáctica dos conjuntos são, hoje, os novos administradores da Caixa Geral de Depósitos.

Férias repartidas

Soares e Cavaco foram recebidos ontem, dia 2 de Agosto, em Belém por Jorge Sampaio. Os políticos fazem cada vez menos férias em Agosto.

A ler

«bronze: sobre a areia todos se contentam com o terceiro lugar.»
José Mário Silva no letra minúscula.

Contrasenso convida [actualizado]

Por motivo de doença da funcionária que faz a composição, «A Voz de Loulé» de 1 de Agosto sai com menos páginas e menos rubricas. Uma das sacrificadas foi o Contrasenso que, neste número, seria da lavra de Luís Ene, um texto sobre exercício de escrita, no qual ele é exímio. Assim essa coluna sairá no próximo número, só a 1 de Setembro. Do facto pedimos desculpa aos nossos leitores.
*
[Na verdade, a informação da administradora do jornal - na qual baseei o post acima - estava errada. O Contrasenso lá vem na página 14 como sempre, com o texto do Luís Ene, como muito bem viram, leram e me avisaram os amigos Luís Guerreiro e António Baeta nos comentários a este post. Ao fim da tarde colocarei online, neste blogue, o texto integral com os negritos da história final do texto, bem como o link para a imagem a preto e branco, escolhida pelo autor e que não foi publicada].

terça-feira, agosto 02, 2005

Camiliano

Dizia eu que se o Eça sabia dos salões, o Camilo sabia da taberna, os podres do país e dizia-o, sem frases comichosas a jorrar adjectivos para as elites. Minutos passados dou com ele, de bigodinho desenxabido e vozinha tímida, a escapar-se amedrontado entre os maples burgueses de um salão. Na noite da 1, meus amigos. Quem fez de Camilo este camaleão tão pouco camiliano?

Dúvidas, sempre.

Se há blogue sóbrio, inteligente, culto, que se gosta de ler quer escreva sobre a teoria das vantagens comparativas de Ricardo quer sobre mulheres bonitas, é "A destreza das dúvidas" do Luís Aguiar-Conraria. Ainda por cima todas as segundas-feiras oferece uma prenda: os tratados, em português, do Cristóvão de Aguiar, seu pai. Hoje o blogue faz um ano. A melhor forma de o felicitar é dar-lhe o trono que merece e que há muito lho devo: ali ao lado nos links, por favor.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Guta me look mi look love me

No leitor de cd’s do carro, e em casa, tem rodado o fabuloso disco do Tom Zé «Jogos de Armar». Há uma música que os meus filhos pedem sempre: aquela em que ele imita a voz da menina. Sobre Jimi Hendrix, claro! Olha aqui galera!

Eh pá ninguém te pediu justificações

“Abri aqui uma excepção, porque sou amigo desta gente há muito tempo!”. Fernando Tordo na festa da revista Caras, algures no Algarve.

Agosto

Quando no areal já vogam os nomes Bernardo, Martim, Sásá, Beatriz e se apagam os gritos do Zé, do Joaquim, do Fernando, do Rui, é sinal de que a Linha invadiu a curvatura das dunas junto à outra linha de água. E o mês de Agosto, começou.