terça-feira, julho 19, 2005

Destruído jardim de Charles Bonnet em Loulé [actualizado]

[Actualizo este post para deixar referências a Charles Bonnet como engenheiro de minas, bem como ligar as notícias do Jornal do Algarve e da RTP sobre a nota da Almargem]
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NOTA DE IMPRENSA
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Destruído jardim de Charles Bonnet em Loulé
Aquilo que já se anunciava há muitos anos, acabou por concretizar-se. O popularmente chamado Jardim do Boné, situado na zona baixa da cidade de Loulé, foi arrasado para vir a dar lugar a um parque de estacionamento e mais uns quantos lotes de apartamentos. A obra resulta de um protocolo entre a Câmara Municipal de Loulé e os actuais proprietários do terreno. O Jardim do Boné ganhou esse nome devido a ter sido local de residência de Charles Bonnet, responsável pelos primeiros trabalhos consistentes de investigação sobre a geologia, a geografia e a história natural do Algarve. Os estudos deste engenheiro francês foram condensados no livro "Memórias sobre o Reino do Algarve", publicado em 1850 pela Academia Real das Ciências de Lisboa e que mereceu uma reedição em 1990 por parte da Delegação Regional da Secretaria de Estado da Cultura. Charles Bonnet viveu durante cerca de uma década em Loulé e aqui acabaria por falecer em 1867. A sua modesta casa da antiga Rua Nova de Quarteira estava rodeada de uma ampla quinta com cerca de 1,5 hectares, onde plantou espécies da flora algarvia e muitas outras espécies agrícolas e ornamentais. Apesar da degradação a que o local havia sido votado nos últimos anos, ele constituía efectivamente um dos poucos espaços verdes da cidade. Dezenas de árvores e outras espécies arbustivas foram já arrancadas nos últimos dias, pondo em risco o desejo de muitos louletanos que era ver este local transformado num verdadeiro Jardim Público. Em 1986, durante o 4º Congresso do Algarve, o Prof. Vilhena Mesquita propôs mesmo que no Jardim do Boné fosse implantado um laboratório de investigação botânica, capaz de atrair e motivar a juventude para o estudo da flora algarvia. Numa cidade, como tantas outras, sem vontade ou capacidade de investirem novos jardins e zonas verdes, é de lamentar que um projecto como este se venha a perder, tanto mais que, em Loulé, este era efectivamente o único espaço do interior da malha urbana da cidade onde ainda se poderia compensar de forma significativa o continuado avanço do betão e do asfalto. Desconhecem-se, neste momento, os contornos exactos do projecto de urbanização em marcha. Mas não serão certamente alguns canteiros plantados de mélias e palmeiras e rodeados de apartamentos de arquitectura duvidosa, que constituirão um bom contributo para a urgente criação de espaços verdes na cidade e, muito menos, uma forma digna de homenagear a memória de Charles Bonnet. Por estas razões, a Associação Almargem exige que, no mínimo, seja preservada a casa de Charles Bonnet, se proceda à sua recuperação e transformação em espaço público dedicado à divulgação da obra deste insigne investigador a quem o Algarve muito deve. E também que uma parte do terreno agora devassado seja reservado para instalar um pequeno Jardim Botânico com espécies da flora algarvia.
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Loulé, 12 de Julho de 2005
Contacto: João Santos (289412959)
Almargem
Nota pessoal: ainda ontem, conversava com um amigo sobre a destruição deste jardim e falávamos da possibilidade de, urgentemente, escrever sobre o tema, já que parece que a actual Câmara adora derrubar património vegetal. Hoje, ao abrir a caixa de correio deparo com este lamento da Associação Almargem que aqui edito como forma de solidariedade e de protesto.