quinta-feira, dezembro 29, 2005

Remate

Estavam os dois em casa, sós, a ceia na mesa e os presentes debaixo da árvore. Tinham passado a noite a beber e estavam já um pouco embriagados. Palavras que começaram por ser gracejos passaram rapidamente a insultos. E das palavras passaram aos actos. Mais tarde arrependeram-se os dois. (...)
Repare-se no balanço galopante das palavras em direcção a um desfecho inevitável. Que o leitor não sabe. Mas que o Luís remata assim: >

Ah, velho Churchill

A coluna de João Pereira Coutinho na Folha de S. Paulo é uma das minhas preferidas. Quem o lê sabe que JPC é um rapazinho (só tem 29 anos) às direitas, mas é um leitor inveterado e um colunista moderníssimo, enquanto crítico inteligente e divulgador culto. Manter os inimigos perto de nós, é um excelente conselho do velho Churchill. Por isso leia a última coluna de Coutinho: "Dicionário 2005".

Amigos

Para ler, com suavidade, a poesia quente do meu amigo Luís Filipe Natal Marques. Ali ao lado, nos Blogues, na Rotação dos tempos.

Condomínios

Na 2ª feira participei na reunião anual do condomínio. É claro que só me lembrei dela no momento em que li o belíssimo texto do Tiago Cavaco sobre a sua própria. Leia aqui.

O Guião

- Sim, claro que Cavaco Silva tem um guião!, respondia, há pouco, Pacheco Pereira a Carlos Duarte na "Quadratura do Círculo". Pacheco Pereira como intelectual competente sabe que esse guião está à mostra, demasiado descoberto, e que dificilmente irá resistir aos ventos frios de Janeiro.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Indispensável

ler os vários balanços na Origem das Espécies.

Últimas chuvas

Para perceber como a ideologia de Cavaco é um monumento de "construções" sucessivas da representação da imagética popular, montada por marketeers da Católica e que se desfaz às primeiras chuvas do Natal, é ler a sua entrevista ao «Jornal de Notícias».

Lusíadas

Vi, há pouco no programa de Jô Soares, o actor brasileiro José Vasconcellos fazer a rábula dos "Lusíadas", um texto em que representa - com aquela voz de trovão, apesar de gaiato - a primeira estrofe do Canto I. Vasconcellos dramatiza a récita de vários personagens representativos da geografia humana da Europa e da América Latina (aqui o velho rival Argentina), que declamam a estrofe perdendo-se em fait-divers e voyeurismos risíveis. E conta a história de quando representou esta rábula na Universidade de Lisboa, antes do 25 de Abril, numa altura em que a mesma estava proibida pela Pide, com a qual ele gozou. De rir às lágrimas.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Obrigatório ler

Os Evangelhos de Boliqueime: a Anunciação. No Franco Atirador.

A rir meus amigos

Excelente a entrevista de Ricardo Araújo Pereira a Ana Sousa Dias, ainda há pouco na 2:. Os dois prometiam um bom argumento e não desmereceram. Divinal, mesmo, foi quando RAP passou de entrevistado a actor e disse para ASD:
-Pois, gosto mais deste seu programa. Porque no outro estão a enganá-la. Tem que falar com a produção. É que põem-lhe o mesmo convidado todas as semanas.
Hilariante! ASD engoliu um pouco em seco e lá respondeu que isso fazia parte do contrato. Estava escrito.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

BI

Sim, sim, aduladores e detractores, o «Bilhete de Identidade» está agora na cabeceira. O primeiro capítulo (o do pai) já lá foi.

.com

Ah, mas os gabinetes jurídicos das candidaturas têm tanto trabalho com as brincadeiras daquela casa de apostas cujo nome não vou escrever! Brincadeira, como diz Louçã.

domingo, dezembro 25, 2005

Contrasenso convida:

Como anteriormente referi esta é (foi) a última coluna “Contrasenso” na Voz de Loulé.
Aqui estive a escrever desde 1 de Maio de 2003, em formatos diferentes e nos últimos tempos com o convite aos amigos Luís Guerreiro, Maria Amália Cabrita, Luís Ene e Joaquim Mealha Costa, os quais asseguraram esta coluna nos últimos meses, por impedimentos académicos da minha parte. A este projecto seguir-se-ia outro, com início no primeiro trimestre de 2006, que envolveria os amigos aqui referidos. Imponderavelmente, A Voz de Loulé vai suspender a publicação a partir do número de 15 de Dezembro 05. Por este motivo resta-me agradecer: em primeiro lugar aos leitores e amigos que são a seiva da imprensa escrita; aos amigos que aqui escreveram de forma brilhante; e ao director do jornal, José Maria da Piedade Barros, sua esposa e administradora da publicação e a toda a restante equipa.
Por agora fica a coluna escrita por Luís Guerreiro. Até qualquer dia.

O Centenário do Carnaval de Loulé


Por força da roda do tempo a edição de 2006 do Carnaval de Loulé corresponde ao seu Centenário. Foi justamente há cem anos que um grupo de louletanos liderados por Ventura Sousa Barbosa, o verdadeiro «pai» do Carnaval de Loulé, decidiu organizar os primeiros festejos carnavalescos desta terra, com a denominação de Carnaval Civilizado e subordinado ao lema Paz, Amor e Caridade.
Estes epítetos têm razão de ser: os festejos do carnaval até 1906 eram extremamente agressivos, sujos, sem graça, monótonos e sensaborões, segundo os relatos da época. Era preciso alterar-lhe a feição, civilizá-lo, torná-lo mais asseado e elegante. Por outro lado, nesta época, existiam muitos pobres, mendigos e miséria por todo o lado. Era preciso conferir uma dimensão humanitária a esta festa de excessos e abusos passíveis de condenação, dando-lhe um ar de alegria e de civismo, onde toda a sociedade louletana participasse e simultaneamente servisse para aliviar o sofrimento e a fome daqueles que efectivamente mais precisavam.
Do programa, amplamente divulgado por todo o concelho, constava nesta primeira edição uma Matinée no “Teatro Louletano”, Batalha de Flores e um Bodo aos Pobres. A primeira Batalha de Flores, que constituiu um êxito assinalável não só pela presença de milhares de pessoas e pela forma ordeira como tudo se passou mas também pela beleza e bom gosto dos carros alegóricos, desenrolou-se na Rua da Praça, entre o Largo dos Inocentes (actual Largo Gago Coutinho) e as Bicas Novas (actual Largo Bernardo Lopes). Abrilhantaram os festejos três filarmónicas: «Artistas de Minerva», «Marçal Pacheco» e «Progresso Louletano».
As primeiras edições do Carnaval de Loulé tiveram mais ou menos este figurino. Batalha de Flores com o percurso por vezes estendido até à Rua dos Grilos (actual Av. Marçal Pacheco), espectáculos teatrais e Bodo aos Pobres. Este Bodo aos Pobres durou pouco tempo, dizem que a sua extinção se terá ficado a dever às cenas tristes que esta cerimónia despertava e também pelo facto de ter surgido em Loulé uma Associação que tinha por objectivo principal a assistência à mendicidade.
A partir de 1926 o Carnaval de Loulé assume uma nova fase, passando a Santa Casa de Misericórdia a organizar os festejos e as receitas a serem orientadas integralmente para o funcionamento e melhoramento do Hospital de Loulé.
Foram tempos áureos do nosso Hospital, ao ponto de ser um dos melhores equipamentos de saúde do Algarve, em grande medida devido às avultadas receitas que os festejos, cada vez mais populares por esse país fora, iam gerando, mas também ao profissionalismo e competência do seu corpo clínico, com destaque para o Dr. Bernardo Lopes. Cada vez há mais gente de outras terras a querer ver o nosso Carnaval, pela fama que vai adquirindo, o que naturalmente acarreta problemas logísticos variados. Desde logo carência de alojamentos, transportes e pouca restauração. Depois é a própria natureza dos festejos que se começa a aperfeiçoar, conferindo maior profissionalismo à organização através das Comissões criadas para o efeito, o aumento dos carros alegóricos com a presença das freguesias, instituições e carros-reclame. É evidente que no meio de tudo isto, também houve problemas de crescimento, crises insuperáveis e transtornos inesperados. Sem querer entrar muito por esta área, recordo o célebre ano de 1941, em que só por um triz e influência de gente importante é que houve Carnaval de Loulé. O mundo estava em guerra, Portugal apesar do seu estatuto neutral, sofria as consequências do conflito, adoptando o racionamento de muitos bens essenciais e para cúmulo do azar, em Fevereiro desse ano, dá-se em Portugal um violento ciclone que provocou mais de uma centena de mortes e avultados prejuízos. Salazar proibiu os festejos de rua. Sem entrar em grandes pormenores o Carnaval de Loulé foi excepcionalmente autorizado, atendendo a fins de beneficência que tinha.
Até a Câmara de Loulé começar a organizar o Carnaval em 1977, os festejos assumiram sempre esta característica dupla: o aspecto artístico aliado aos fins de beneficência.
A partir desta data o Carnaval passou a ser um cartaz turístico de época baixa, um espectáculo de cor e alegria a que milhares de pessoas assistem através de um ingresso na Av. José da Costa Mealha e, supostamente, um motor da economia local e regional.
Perdeu-se com este figurino a participação activa da população que a pouco e pouco deixou de estar envolvida na sua organização pois todos os serviços passaram a ser profissionalizados (entenda-se remunerados) e deixou de haver o tal objectivo filantrópico que mercê de acções bem concertadas desse tempo apelavam à generosidade e à participação voluntária de centenas de pessoas. Os tempos não param, passaram cem anos sobre a festa memorável que foi o primeiro Carnaval Civilizado de Loulé, muita coisa mudou na nossa terra, no país e no mundo e quer queiramos quer não, as coisas evoluíram e não podemos mais voltar atrás numa lógica de saudosismo ou revivalismo. Podemos melhorar, aperfeiçoar, fazer diferente e nesse sentido penso que este Centenário, para além das comemorações inevitáveis, até porque é a festividade mais conhecida além-fronteiras de Loulé, deve servir também para reflectirmos e debatermos o futuro deste valioso património que nos foi legado por uma geração de louletanos ilustres.

[Luís Guerreiro]

sexta-feira, dezembro 23, 2005

A ética do jornalista

O caso da jornalista do DN no Algarve, Paula Martinheira, relatado hoje no jornal barlavento, recorda-me o que escrevi sobre o assunto aqui.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

As razões do espia de balneário

Nunca escondi que alguma vez achasse este homem competente. Escrevi várias vezes sobre o perfil militarista e patridiota (como lhe chama Vale de Almeida) que ele impôs à selecção de futebol e sobre o populismo nacionalista das bandeirinhas chinesas que levou a pátria dos outros a erguer nas janelas. É claro que em tempo de vacas magras e valores enlameados há sempre lugar para o messianismo do “rigor, da competência e da autoridade”. A presente campanha presidencial é disso excelente paradigma.
Agora vir dizer que Baía e João Pinto não são convocados por “razões de balneário”, prova o que sempre dissémos. E não adianta pensar que estas reacções, de quem acha que Scolari deveria deixar o cargo de seleccionador, é xenófoba, só porque é brasileiro (a propósito experimentem propor Mourinho para o lugar de Parreira). Muita gente que andava satisfeita com os resultados do Euro/04 já deu a mão à palmatória e já percebeu que o homem não tem qualquer cultura democrática. A sua presença na selecção portuguesa é de mero interesse comercial. Agora também era bom que os responsáveis pela sua presença deixassem o lugar de meros amanuenses.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Os poemas da "Máquina"

A RIA FORMOSA

Na tarde, notavam-se as ausências no lago.
Onde estavam os flamingos rosa,
dormindo o dia nos aquilinos bicos?
E as correrias dos velhos galeirões,
mostrando quão perene é o nosso tempo?
Patos reais, porfírios azuis, nem as garças brancas
denunciam a vida, junto das sapeiras e das dunas,
nas águas salobras.
Talvez um apelo longínquo das gaivotas,
atentas ao desenrolar das estações,
ou o incómodo da primavera dos homens,
sempre dispostos a perturbar a serenidade
dos belos mundos
que desconhece.
*
Este e outros dois poemas meus podem ser lidos na Máquina do Mundo, revista brasileira de poesia, no número de Dezembro 05.

sábado, dezembro 17, 2005

Novidades

Muitas alterações no template: para marear a navegação dos leitores; para corresponder aos desígnios das minhas leituras.
Ora vejam ali no lado direito:
1. Abri uma secção para as minhas crónicas no jornal "barlavento" (as que estão online; as outras podem ser encontradas no arquivo do Lobo das Estepes);
2. Coloquei online o conto que publiquei na revista "bestiário";
3. Abri outra secção, com os livros que estou a ler neste momento, a qual será actualizada de acordo com as leituras (os livros do mestrado não contam);
4. Outra nova secção contém a imprensa que leio online;
5. Ainda outra secção contém as revistas que leio online;
6. Finalmente, actualizei a lista de blogues que leio desde sempre (ainda faltam alguns, claro).
*
Até já!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Tragam cá o Vitorino

O que se pode perguntar - e é justo que o façamos - é: qual o estofo moral de António Vitorino e já agora de Jorge Coelho e de António Costa (altos dirigentes do PS) para exigir aos candidatos de esquerda que desistam em favor de Soares?
Respostas óbvias: nenhum deles se candidatou (apesar do putativo Vitorino) e tiraram Soares da cartola; as sondagens amedrontam-nos cada dia que passa ( e hoje no debate com Louçã vai tudo piorar); o PS de Sócrates quer que a direita ganhe e é por isso que apresenta dois candidatos.

BD da casa


A exposição das vinhetas (em tamanho grande) de José Carlos Fernandes, que deram origem ao livro acima, são uma benção sobre a sociedade pós-moderna: pequenos clichés sobre a tecnologia, os medos urbanos, a manipulação da televisão, a desafectividade humana. Está lá tudo. Lembro que em primeira mão tivemos oportunidade de publicar alguns destes desenhos no suplemento cultural da Voz de Loulé. A edição em livro veio a ser premiada com o melhor argumento no Festival de BD da Amadora.
Mas na galeria da Marina de Albufeira (até 22 de Janeiro) estão também os desenhos da série do Diário de Notícias "Geração de 70": uma capacidade de síntese cultural e política que é de sublinhar. E como ganham os desenhos vistos na sua dimensão original, longe da perecidade do papel de jornal!

Competências

O problema central nos bastidores do que aconteceu à menina abusada e violada (Fátima Letícia) é apenas e quase só um: a falta de competência técnica e científica dos membros das Comissões de Protecção de Jovens e Menores em Risco. E desculpem, mas eu sei do que falo!
*
nota: ler também a coluna de João Miguel Tavares no DN de hoje.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

O quadrado

Pois é. Alegre recebeu uma lição de presidencialismo. É cada vez mais visível a sua dificuldade política (e poética também) para falar claro e seguro sobre os problemas do país. Muito tempo de caça, touradas e poesia, colocam-no num papel aristocrático que não se coaduna bem com o ar de candidato da esquerda. Está cada vez mais encerrado no seu quadrado. Cada debate que passa aguenta menos segundos antes de ir ao tapete. Ora jogue lá este jogo para ver se não tenho razão.
*
nota: post inspirado no de ZMS.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Blog de Ajuda

«"Ajuda" e "partilha" são as palavras chave. Qualquer experiência poderá ser partilhada , qualquer pedido de ajuda poderá ser feito. Na base estará sempre um problema , ou a sua superação, e a convicção que partilhar é parte da solução».
Também me apetece divulgar o novíssimo projecto do Luís Ene.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Um filósofo no seu "palácio de cristal"

A propósito deste post, em que o filósofo Paulo Tunhas afirma desconhecer os mandatários para a juventude de Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, convém educá-lo:
Ó Paulo Tunhas: eu compreendo que andar a escrever sobre cultura na "Atlântico" não deixa tempo para algumas vulgaridades culturais como ouvir por exemplo os Blind Zero ou mesmo ler a coluna «Periférico» no "Público". Porque falo destas coisas michurucas? Bom, simplesmente porque em ambos os casos está presente Miguel Guedes, o mandatário da juventude da candidatura de Francisco Louçã. Cumprimentos. HFR.

sábado, dezembro 10, 2005

A ler

«E depois, a fechar o debate, limitou-se a exibir um sorriso forçado e uma nota de optimismo bacoco, namorando pela enésima vez os jovens, os jovens, os jovens, ao melhor estilo IPJ.»
José Mário Silva no Aspirina B
*
DEBATE, 3
Eduardo Pitta no da literatura

Os pobres vistos pelos ricos

Um dos argumentos da direita, para explicar as incompetências e desconhecimentos de Cavaco Silva, assenta os fundamentos culturais e sociais na "ascendência pobre" do candidato presidencial. Sobre isto só diria duas coisas: a primeira é que na verdade os seus apoiantes – designadamente a sua Comissão de campanha – são ignorantes sobre a verdadeira história do seu ídolo; a segunda é que este é um argumento a contrario senso, quer dizer, um argumento populista para conquistar votos no “povo”, entidade abstracta que como muito bem se sabe não nasceu toda filha de um empresário abastado.

Novas

Como este é o meu principal blogue, resolvi organizá-lo como uma espécie de índice. Assim, ali à direita coloquei duas novas secções: a 1ª com os meus outros blogues; e a 2ª com os blogues em que colaboro. Também na secção "Leituras" retirei os blogues que estavam há muito inactivos e coloquei um novo.
Até já!

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Personna

Finalmente a máscara de Cavaco começa a cair. Muito por culpa da argúcia e inteligência de Louçã que obrigou a que o debate fosse isso mesmo.
Ficámos a saber que Cavaco é contra a entrada de emigrantes, com medo que os mesmos dominem os 10 milhões de nacionais; que há coisas mais importantes que os direitos constitucionais de determinados cidadãos a constituir família; que o problema do desemprego se resolve com mais liberalização de despedimentos; que o aumento da idade da reforma é a solução para o colapso da segurança social.
Depois mostra não estar preparado, não conhecer estudos e relatórios (como no caso do estudo sobre a segurança social). Até no combate económico perde. Como disse Louçã, é um político pequeno.
É todo um programa neo-liberal que cai por terra, juntamente com a máscara do candidato dito suprapartidário. Agora faltam as máscaras seguintes, até que a verdadeira face de direita apareça clara aos olhos de todos.

Crucifixos

Há um ano e meio atrás – quando a Escola do 1º ciclo do ensino básico do Serradinho, em Loulé, decidiu passar a chamar-se “Mãe Soberana” – vim a público no jornal A Voz de Loulé defender a laicidade do ensino e a utilização de nomes religiosos apenas onde eles fazem sentido. Mais tarde divulguei o estudo da Associação República e Laicidade contra a presença de símbolos e práticas religiosas do catolicismo nas escolas de ensino público. Por estes dias e após a indicação do Ministério da Educação de retirar crucifixos da escolas, o debate alarga-se pelo país, desperto para a necessária liberdade do laicismo, num sentido que nos agrada discutir. Brevemente abordarei o assunto em crónica jornalística.
Entretanto pode ler o que escrevi em Junho 2004, clicando aqui.

Cassetes

No debate Soares-Jerónimo este tentou fugir da cassete paradigmática do discurso dos comunistas. Quase sempre obrigado por Soares, que o lembrou das reviravoltas e dos sapos engolidos. Mais jovem que Jerónimo, Bernardino Soares foi um inexcedível leitor de cassetes no debate com Ivan Nunes (representante da candidatura de Soares): passou todo o tempo disponível a dizer que a candidatura do seu secretário geral era a única que defendia a aplicação da Constituição. Preparava, assim, o seu eleitorado para os votos em Soares na segunda volta.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

O catenaccio dos debates

O debate Cavaco-Alegre foi a imagem da antecipação de um país presidido por homens de que o país não precisa. Cavaco – depois de impor que os candidatos ficassem lado a lado e não olhos nos olhos – lá arrastava uma carantonha triste e deprimida, mas não escondendo um vício professoral ao jogar o rabo do olho de complacência ao outro candidato. Alegre foi apenas triste, incerto, sem rasgo, um poeta despido de palavras homéricas.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Tenham medo, muito medo

Como se esperava, e eu tinha avisado há meses, Alegre vai escorregando sucessivamente para um populismo cada vez mais evidente: dizer agora que nos partidos é tudo conspiração e que a democracia está sobretudo na sociedade civil é manipulador e perigosamente antidemocrático. Alegre deve referir-se ao seu partido, à tentativa de o exorcizar na forca do confronto com Soares. Mas o que esperaria ele, se age com os provendos da sua militância no PS ( do qual é vice-presidente na Assembleia da República) e ao mesmo tempo quer estar por fora, a criticar?
Mas o povo desconfia de quem tem rabos de palha. Esperemos é que muita gente - sobretudo alguma intelectualidade da poetry - que se quer ver reconhecida em Alegre nas eleições, veja isso. A coerência do homem já foi chão que deu uvas.

sábado, dezembro 03, 2005

Autofagia

Como é que um homem que tem como paradigma de resposta a sua autobiografia política pode vir a ser presidente da república? Seria um caso de autofagia escolástica!
Este homem nem sequer é do passado.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

a rede

Já sabíamos que a rede tecia tantos nós, como as sinapses da nossa memória mais profunda e antiga. Agora que nos trouxesse velhos e desencontrados amigos de escola mais de trinta anos depois...

La mujer gorda

Hernán Casciari fez o melhor blog do mundo “A mulher gorda”. Agora, no seu diário de bordo, continua com as melhores histórias.

A ler

«Acham que políticos se importam em serem atacados em colunas na página dois? Claro que não – ninguém se importaria. Eu sei que eu adoraria. Não, não – jogue todos para uma notinha no último caderno. Isso sim seria subversivo.». Nova coluna de ASS no Semana 3.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Contrasenso convida


Aqui está a coluna Contrasenso, na Voz de Loulé. Desta vez com a Maria Amália Cabrita:
*
O Estrangeiro

Durante o mês de Novembro, o estrangeiro tornou-se a figura central em França. O estrangeiro desconhecido, bem entendido, tal como o soldado que os poderes dominantes transformaram em estátuas depois da I Guerra Mundial era desconhecido. Em ambos os casos, há qualquer coisa de póstumo: foi depois de muitos deles - pessoas com nomes e vontades próprias se terem manifestado - , uns de uma forma, outros simplesmente morrendo, que a ordem constituída se lembrou de lhes conceder o estatuto de potência anónima.
Isto, claro, por parte da imprensa, porque durante a fase em que se desenrolam os acontecimentos os estados maiores têm habitualmente designações mais operacionais e menos metafísicas. Por exemplo, em 25 de Outubro último, um ministro francês achou que “racaille” (escumalha, em tradução livre) seria mais prático. E agora, alguns factos esclarecedores. A França tem uma taxa de desemprego de 10%, que no caso da população imigrante é superior a 17%. No caso dos filhos de magrebinos, entre os 19-29 anos é de...40%. A partir daqui é facil deduzir que existe uma geração com um potencial criativo praticamente perdido porque se a estes números juntarmos as taxas do insucesso escolar e da escolaridade interrompida, que se concentra também nestes grupos, facilmente se percebe como a sociedade se prepara para perder por inteiro o seu contributo.
Agora, eles são estrangeiros relativamente a quem e a quê? Não à região parisiense e à França, visto que nasceram lá. Não às instituições administrativas, escolares, eleitorais, policiais, que os registaram por mais de uma vez e sempre que foi necessário. Não à publicidade que lhes fez entrar pelo ecrã dos seus televisores as amostras do que faz o resto da sociedade, às grandes superficies onde vão gastar os seus subsídios estatais (se e quando o recebem) e às agências de trabalho temporário que os chamam ocasionalmente. Assim, eles são nacionais para todos esses efeitos e apenas estrangeiros quanto ao seu futuro como trabalhadores franceses.
Pode a seguir perguntar-se quanto tempo levará a sociedade francesa – e já agora, alemã, inglesa, belga ou...portuguesa – a fabricar mais estrangeiros destes. Há várias projecções que apontam que daqui por 2 ou 3 gerações, a taxa de desemprego europeia vai estar próximo do que está hoje neste grupo dos jovens filhos de magrebinos em França: acima dos 30%, próximo dos 40%.
Nessa altura, vamos ser todos de Grigny-la-Grande Borne: registados em tudo quanto é repartição, estrangeiros a tudo quanto é emprego e perspectivas de futuro. Vamos ser todos “escumalha”? Provavelmente não, porque seremos nessa altura uma maioria (não um grupo “visível”) e visto que continuaremos a votar, não se dizem tais coisas do eleitorado. Mas se vivermos, ainda que anafados e com problemas de colesterol, em belos bairros periféricos, se estudarmos em escolas públicas degradadas o máximo de tempo possível (não para aprender grande coisa mas para pesarmos o mais tarde possível nas estatísticas do desemprego) e se não tivermos nunca como perspectiva de trabalho senão os 15 dias de substituição que a agência de “recursos humanos” nos enviar em cada seis meses, atenção.
Para citar um outro francês, mais polido do que Sarkozy (ele próprio um emigrado, só que do tempo das vacas gordas), De te fabula narratur. É de nós que se fala nesta história dos estrangeiros.

[Maria Amália Cabrita]
*
Quase no fim o projecto "Contrasenso" na Voz de Loulé. A próxima coluna será a última.

terça-feira, novembro 29, 2005

Periferias

Também a Periférica - revista de culto mas pouco preocupada com isso - vai acabar. Para nosso descontentamento só teremos mais um número, lá para Janeiro. Entretanto podemos, online, saborear a última aqui.

Preto no branco

O Blogue de Esquerda (BdE) - após o 25 de Novembro - está em branco. Lá se escreveram, a preto, das melhores páginas na blogosfera portuguesa. Tempo de lembrar um dos meus favoritos e apontar os caminhos de retorno dos seus mentores: aqui e aqui.

sábado, novembro 26, 2005

Outras músicas!

Está pronto. Em breve a Câmara de Loulé terá à disposição, de amantes e investigadores da música tradicional, o 3º CD do catálogo "Tradição Musical de Loulé", desta feita contendo 47 temas recolhidos entre 1981-1987, nas freguesias de Alte, Benafim e Salir. Outras Músicas, portanto, nome de disco. Deixo-vos os textos do booklet aqui no Folclore. E um cheirinho do CD com o tema "Esta noite é de Janeiras", cantado pelo Daniel Vieira e tocado pelo artista plástico Giga, que pode descarregar para ouvir, no FolhadAlte. É só clicar na palavra sublinhada e escolher depois em "música de Portugal".

sexta-feira, novembro 25, 2005

De novo Casimiro de Brito


«No próximo ano, 2006, passam 50 anos do aparecimento do "Prisma de Cristal". Tempo para encontrar formas de comemorar condignamente o evento. Casimiro de Brito merece-o. E Loulé tem essa dívida!»
Extracto da minha crónica sobre Casimiro de Brito e o "Prisma de Cristal", págima literária do jornal A Voz de Loulé, nos anos 50. Pode ler no barlavento online, clicando na imagem.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Gatos Pretos

A nossa vida nas aulas tem destas coisas. Passamos pelos alunos e quase sempre nada fica, nem uma cara para recordar, palavras, cheiros, tempos de compromisso da aprendizagem colectiva. Tudo isto é algo que eu nego, tento evitar. Fui para o ensino superior já adulto e agora encontro muitos caminhos iguais aos meus, muito mais agora quando o ensino superior parece caminhar para servir mais os activos que os jovens do secundário em formação inicial. Claro que, por isso, não pretendo das aulas um mero receptáculo bancário para depositar conteúdos (ah velho Paulo Freire, como tu sabias), mas percebendo que esses são os momentos gloriosos da descoberta colectiva, plasmada entre todos. Este é o campo da troca de amizades, muitas vezes disfarçada da formalidade dos papéis de professor/aluno(a), no qual se descobrem os segredos dos melhores saberes para além das matérias das aulas (conceitos que evito). Vem isto a propósito de um poema que posto em baixo, de um aluno, que retirei de entre muitos outros, processados em computador, mas escritos por todo o lado, em toalhas de papel, por exemplo, quando vem o desejo inexorável da escrita. Aliás, isso é fortemente visível neste poema:

SAVIMBI E MATATEU

Savimbi e Matateu,
duas personagens importantes,
dois pretos importantes,
dois gatos importantes...
dois gatos pretos importantes.
*

Agradecimento

ao Tiago Cavaco que me linkou enquanto estive por fora... Agradecido à Voz do Deserto.
E chamar à atenção para os novos escritos do Luís Ene. Todos sabíamos que ele não aguentava sem pôr os dedos no teclado; e nos livros.

domingo, novembro 20, 2005

Peter









CAFÉ SPORT
*
Aquele é o café,
visível no azul ferrete e no amarelo
velho, as cores que nos inebriam no calor.
Lá dentro, bem no seio da alma dos cachalotes,
só um gin tónico apaga todas as mágoas,
as dores da distância, o peso plúmbeo do tempo.
É ali, entre aquelas paredes humanas,
que os homens podem morrer,
olhando o velho mar.
*
Escrito em Fev.04. Hoje em homenagem a José Azevedo-"Peter".

sábado, novembro 19, 2005

Casimiro de Brito

Ontem, em Loulé, realizou-se uma conferência sobre Casimiro de Brito, no âmbito da Capital da Cultura. Álvaro Manuel Machado traçou um excelente perfil da obra poética e literária do poeta, em torno da ideia central de pleno e de vazio, que considera serem as marcas filosóficas de Casimiro. Aproveitei essa deixa, no final da Conferência, para metaforicamente sublinhar o contraste entre a vasta e qualitativa obra do poeta e o número de pessoas na sala (6 e mais 3 pessoas da organização). Casimiro, sendo louletano, não é conhecido em Loulé. Aliás entre a terra e ele há ainda muita coisa por esclarecer. E, notoriamente, estamos perante um fenómeno de rejeição recíproca, muito mais por obra da terra do que pela obra do poeta. Sobre este assunto aliás, já publiquei uma coluna na Voz de Loulé, para a qual remetia para uma leitura detalhada a quem quisesse analisar o tema, aqui.
Mas a conferência teve outro dado esperado. Álvaro M. Machado assentou o ponto de partida poética do autor no movimento da Poesia 61, em Faro, em torno dos célebres "Cadernos do Meio Dia". Mantém-se ainda muito pouco conhecida, portanto, a experiência de Casimiro de Brito, em Loulé, onde em 1956 lançou a página literária "Prisma de Cristal" na Voz de Loulé, em torno da qual se juntaram Ramos Rosa, Gastão Cruz, Maria Rosa Colaço e outros. E foi no seio desta experiência pioneira e primacial que Casimiro de Brito escreveu e publicou os seus primeiros poemas e dirigiu os seus primeiros cadernos de poesia. Sobre este assunto pode ler o meu pequeno estudo no arquivo do Lobo.

Manifesto do silêncio

As Noites

As noites essas alimentam-se
pela excessiva luz do dia
Como se um raio de sol tivesse
ficado esquecido
na metálica planície do sul
*
[Algarve Lugar Onde, 1964-1969
in Ode & Ceia, 1985]
*
Este poeta não é candidato a nada!

A tese

não é tudo!
*
Agora que o trabalho de análise de conteúdo dos dados recolhidos está quase, quase no fim, e a escrita se aproxima fulgurante, é tempo de voltar aqui. Apenas e só de acordo com o ritmo do desejo de deixar palavras suspensas no ar. Para os muitos amigos que me falaram da ausência (neste blogue, porque outros, noblesse oblige, receberam muito trabalho meu) um abraço amigo. Em breve...

quarta-feira, novembro 16, 2005

Contrasenso convida

É meu convidado no "Contrasenso" desta quinzena em A Voz de Loulé, Luís Ene:
*
Brincar com a língua

Contar uma história é como jogar um jogo, um qualquer jogo, quer se pense no jogo do berlinde (às três covas, por exemplo) ou no jogo do xadrez. Existem regras, existem dificuldades e até existem adversários. Mas o essencial num jogo é que nos possamos divertir.
Este é o terceiro de três artigos (é portanto o último) em que vos falo aqui de contar histórias, e vou tentar mostrar-vos como tal actividade pode ser divertida, realçando um aspecto que nada mais é que a superação de várias dificuldades. Quando se conta uma história, quando se a escreve, temos de ter em conta todas as histórias que já foram contadas e, no entanto, contar a nossa história, contar uma nova história. E contamos e escrevemos contra a língua, a sua ambiguidade, a sua sonoridade, a sua gramática. A superação dessas dificuldades traz sem dúvida prazer a quem escreve e a quem lê. Do que vos quero falar é de como podemos brincar com a língua.
Tomemos por exemplos os lugares comuns, ou as frases feitas. Se por um lado é bom ter essas expressões sempre à mão, por outro lado é ainda melhor parodiá-las, subvertê-las, brincar com elas, como se de um jogo se tratasse. Conhecem a expressão “ir desta para melhor”? É curioso como diz tanto da nossa mentalidade e será sem dúvida divertido usá-la. Vejamos então uma pequena história, que é afinal delas que aqui temos tratado.
1. Quando a morte veio para o levar, ele recebeu-a com um sorriso aberto: finalmente ia desta para melhor.
Será que a morte nos leva desta para melhor? Tenho dúvidas, e mesmo que assim seja, não me parece que recebesse a morte com agrado. Mas isso é outra história.
E quanto a dizeres populares, sempre tão expressivos e vivos? É claro que também se pode brincar com eles. Vejam lá se conhecem os que empurrei para a seguinte história, todos eles com um denominador comum.
2. Par de botas
Era um borra-botas sem emenda e um incorrigível lambe botas. E, como se isso não bastasse, tinha uma mulher feia como uma bota da tropa. Mas não se preocupem com ele pois cedo bateu a bota.
Estão a ver como consegui em muito pouco espaço meter quase tudo e ainda um par de botas! Foi divertido para mim escrevê-lo e espero que o tenha sido para vocês lê-lo.
Mas se a ideia principal é brincar com a língua, cedo percebi que era fácil brincar mesmo com ela, a palavra língua e os seus diversos significados, usando sobretudo essa ambiguidade para criar efeitos divertidos. Pois bem, língua tem basicamente três significados: órgão principal da articulação da palavra, da deglutição e da gustação; linguagem e idioma. É com estes três significados que podemos jogar, bem como com as expressões populares que a eles se referem, como por exemplo “soltar a língua” ou “tropeçar na língua”.
3. Era um homem muito calado mas adorava trava-línguas. Este era na verdade o único tema que lhe soltava a língua e o fazia falar durante horas.
4. Tropeçava muitas vezes na língua, razão que o levou a deixar de falar enquanto andava.
E pode-se fazer mais, muito mais, sempre a brincar com a língua.
5. O gato comeu-lhe a língua, e não foi em sentido figurado. Felizmente, ele estava já estava morto e nada mais tinha para dizer.
6. Adorava tanto a língua materna que a conservou até ao fim da sua vida em formol.
7. Falava português fluentemente, com excepção das raras vezes em que mordia a língua.
8. Tantas vezes deitou a língua de fora que um dia ela não voltou para dentro.
9. Tinha uma língua porca. Um dia lavou-a e nunca mais conseguiu dizer um palavrão.
10. Estavam a falar quando ela lhe meteu a língua no ouvido com sofreguidão. Depois ela nada mais disse e ele nada mais ouviu.
Brincar com a língua, espero estar a convencê-los disso, é não só divertido mas também importante, porque nos dá a conhecer a língua que usamos e a tirar dela mais prazer e utilidade.
11. Lengalenga
O que é importante é distinguir o que é importante do que não é importante.
Perceberam alguma coisa? Perceberam pelo menos que me diverti a usar numa frase tão curta a palavra importante três vezes!
Para terminar, uma brincadeira com a língua que usa não só a nossa língua mas também a dos nossos vizinhos espanhóis, aqui tão perto. Sem dúvida que conhecem a palavra embaraçar, e já uma vez ou outra o ficaram. Agora se pensarmos em “embarazar”, que se pronuncia da mesma forma (pelo menos foi o que me garantiram) aí as probabilidades serão menores, pois embaraçar significa engravidar. E olhem que acontece aos melhores. Quando a Parker Pen começou a vender uma caneta esferográfica no México, os anúncios deveriam dizer "it won't leak in your pocket and embarrass you", ou seja, “não vazará no seu bolso e não o embaraçará”. No entanto, a empresa pensou que a palavra "embarazar" tivesse o mesmo significado que embaraçar, de modo que o anúncio acabou por dizer, depois de traduzido, qualquer coisa como: "Não vaza no bolso e você não engravida".
Então até qualquer dia. Deixo-vos com um abraço e a última brincadeira com a língua.
12. Conselho aos homens
Em Espanha, tenta nunca embaraçar uma mulher, a não ser que o desejes mesmo, e ela também.
*
Eu, vou socializando por aí...

domingo, outubro 30, 2005

Contrasenso convida

Apenas para vos deixar online o texto do meu convidado na coluna "Contrasenso" da Voz de Loulé de 1 de Novembro. Joaquim Mealha Costa fala sobre:
Tempo de angústia, tempo de esperança

A vida é assim. Um somatório de alegrias e tristezas. De momentos desagradáveis a que se sobrepõem outros de satisfação. Em cada tempo, podemos viver bons e maus momentos e uns compensam os outros. Afinal a vida é o equilíbrio de tudo isso, o que nos acontece de bom e de menos bom.
Também na nossa vida colectiva se aplica esse mesmo princípio.
Ouvindo e lendo o que a comunicação social nos vai fazendo chegar sobre a realidade do País, sobre as medidas do Governo, em curso, sobre o estado de espírito dos Portugueses, somos forçados a constatar que o momento é de depressão colectiva, de descrença em soluções de curto prazo, nem a chamada luz ao fundo do túnel se vislumbra.
Mas, após um acto eleitoral, em que apesar da significativa abstenção, muitos Portugueses foram votar, demonstrando que apesar de tudo, ainda acreditam um pouco que algo pode mudar, é também tempo de ter esperança.
Lendo os manifestos de campanha ou ouvindo os discursos de tomada de posse dos autarcas, mesmo os reconduzidos em novo mandato, contactamos que é seu propósito fazer mais e melhor do que até aqui. Afirmando mesmo que: é preciso adequar os serviços à sua função de servir com eficiência o cidadão, é preciso que as populações, os agentes económicos, sociais, culturais sejam chamados a participar e decidir sobre a sua terra, é preciso melhorar a qualidade de vida nas cidades e no campo…
A maior proximidade entre os autarcas e as populações ainda permitem que se estabeleça algum nível de confiança. Mas essa confiança também, rapidamente se perderá, se não houver efectiva correspondência entre o que se diz e o que o cidadão pode constatar no dia a dia, como efeitos da gestão autárquica.
Estamos pois num momento, em que perante a descrença nas soluções sistematicamente repetidas pela governação do País, se apresenta a esperança de um mandato autárquico que responderá de forma mais adequada às necessidades de desenvolvimento do município e de qualidade de vida da população.
Este será no entanto um tempo curto. Tal como o governo do Eng. Sócrates passou rapidamente de esperança a pesadelo, também no governo autárquico se exigem no curto prazo medidas que confirmem o sentido da esperança.
Hoje não é possível dar tempo ao tempo, deixar que o tempo resolva. Vivemos tempos de decisão.
Esse é o nosso grande problema, o de termos que tomar decisões sem esquecer no caso da governação, seja ela nacional ou autárquica, que os destinatários do seu trabalho são as pessoas, as de hoje e as de amanhã, que anseiam por uma vida melhor.
Esperemos que à angústia, à descrença, se sobreponha a esperança. Mas também, cabe a cada um de nós cultivar e contribuir para inverter este estado de espírito, esta realidade por vezes dolorosa.
*
[Amanhã nas bancas a edição em papel]

segunda-feira, outubro 24, 2005

Contagem decrescente,

no caminho ascendente da tese: zero horas. aqui voltarei só quando o chão parar de tremer. e o relógio reiniciar a marcha.
Nota: excepção à publicação online das colunas "Contrasenso" dos meus convidados-dias 1 e 15 de cada mês.

domingo, outubro 23, 2005

Puro prazer,

a compra do Mutts III, Mais Coijas, de Patrick McDonnell.

Ler:

«Quantas mulheres, mesmo aquelas que conhecem perfeitamente o seu corpo e todos os botões e reostatos, que exploram e deixam explorar todos os milímetros de pele que estão disponíveis e mais alguns que ficam menos à mão, são capazes (sem sentir qualquer desconforto) de dizer ao parceiro agora vou aqui bater uma e tu ficas a ver?». No Sociedade Anónima.

Similitudes

«Existe um blogue “não oficial de apoio à candidatura de Mário Soares à Presidência da República” chamado Super Mário. A coisa não deixa de ter graça e ser …infinitamente reveladora. É uma tentativa de reeditar o “Soares é fixe” de 1985...».
Pacheco Pereira (PP) no Abrupto.
«E qualquer governo, mesmo o de Sócrates, sabe que terá mais hipóteses de prolongar a sua vida útil com um Cavaco que resistiu a "presidências abertas" do que com a "magistratura de influência" de Soares.».
Francisco José Viegas (FJV) no JN .
*
O que diz PP, acima, já eu tinha dito aqui.
O que diz FJV, acima, já eu tinha dito aqui.
Ou estes homens andam a ler-me às escondidas, ou é melhor eu fechar o blogue...

Antologia de José Carlos Fernandes no "Correio da Manhã"

Como não tenho o reles hábito de guardar as pérolas só para mim, deixo-vos esta, oferecida a todos nós pelo nosso amigo Zé Carlos Fernandes. Não vá a correr às bancas sem eu ter comprado o meu exemplar. Se assim for, escondo já a preciosidade!:

«No próximo domingo, dia 23 de Outubro, vou aparecer no "Correio da Manhã" sem q para tal tenha que atacar uma velhinha com um taco de baseball ou roubar o carro do padre de Querença e ir conduzir em contramão para a Via do Infante, após assaltar uma bomba de gasolina famosa na Fonte de Boliqueime.
Por outras palavras, nesse dia, o infame pasquim "Correio da Manhã" vai "oferecer" (no esquema jornal + livro: x euros) aos seus leitores a possibilidade de adquirirem uma não menos infame antologia de 200 pg deste vosso rastejante criado, incluída numa colecção de "Clássicos da BD: Série Ouro" (não sei bem o q quer isto dizer: julgava q para se ser clássico era rigorosamente indispensável estar-se morto, mas parece que agora basta ter o cabelo a rarear; quanto ao ouro é mais fácil de explicar, pois está visto q este golpe me vai deixar podre de rico). (...)». Zé Carlos.

sábado, outubro 22, 2005

estórias do cavaquismo futuro

A apresentação da candidatura de Cavaco Silva, também foi fértil em fait-divers:
1. Anabela Neves, da Sic, a chamar Maria Aníbal Cavaco Silva à mulher do candidato;
2. No final do discurso do candidato independente e profissionalmente apolítico, a JSD a gritar: "Cavaco amigo, a Jota está contigo!";
3. Na apreciação do PS ao discurso de Cavaco, Vitalino Canas - tal como Valentim Loureiro nos tempos de Guterres: "... não ficou claro o que o Pres ....ââ ... Professor Cavaco...".

quinta-feira, outubro 20, 2005

Atenção:

Hora de parar tudo: a tese, as aulas e mais prosaicamente, o almoço. É que Cavaco Silva chegou mesmo agora para almoçar no Grémio Literário. E pediu espargos, sargo e vinho da herdade do seu director de campanha. O mundo parou e até a gripe das aves congela até às 20 horas, em Belém. Só não gostei de ver a minha fadista preferida na mesa do almoço. Do resto gostei tudo, como se percebe.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Olhó Jardel!

E eu pensava que esta gente tinha o sentido da decência. Ou um maior "sentido de estado". Primeiro foi o Soares é fixe! Agora é o Super-Mário.

Desorientação

Afinal o sono levou-me a outras paragens. E o melhor é falar de sociedades anónimas, aquelas em que não se conhecem os ricos que são sete vezes mais ricos que os pobres, isto no dizer de gente rica insuspeita. Ricos como aqueles que agora andam tão assustados com os seus escritórios e bancos vasculhados pela devassa da polícia, os homens que são tão importantes para a sobrevivência económica do país, Salgado dixit. Mas a sociedade anónima de que eu quero falar é outra: jovem, irreverente, femina sapiens, ai as mulheres quando se juntam, Francisco. Beleza pura! Vão mas é ler aqui.

Pré-post

Não sei se escreva sobre a comoção de Dias da Cunha, entre os seus dois despedidos, sobre o plano radical do governo para a erradicação das aves infectadas, sobre o minuto 29 do Vilarreal-Benfica, sobre a OTA e o TGV no OE de 2006, sobre os scones da reunião da comissão política de Mário Soares, sobre... Desculpem lá, vou dormir e amanhã decido.

terça-feira, outubro 18, 2005

Ataíde Oliveira

O texto de Luís Guerreiro, na coluna "Contrasenso" da Voz de Loulé, vertido mesmo num post aqui por baixo, - sobre o monografista Ataíde Oliveira - suscitou uma réplica do António Baeta Oliveira, do mesmo nível de qualidade que aconselho vivamente a lerem. É só clicar no nome sublinhado.

segunda-feira, outubro 17, 2005

A ler

«Aves: truz truz
Erguem-se barreiras nos céus às aladas arribações. Por causa da gripe. Dizem. Sabemos de ciência escrita que se não puserem cá os ovos os filhos morrem à nascença. As que não dão sinais de fome e pobreza seguem pela via verde.»

Paciência de Job

Em final de trabalho, a edição do 3º CD do catálogo "Tradição Musical de Loulé", desta feita sobre Outras Músicas: paciência, muita paciência para ouvir e seleccionar as nossas gravações de há mais de 20 anos no barrocal do concelho. Agora é ouvir com muita atenção, rever o estudo para o booklet e esperar, para todos ouvirmos.

Co

Adrianse só viu lenços brancos nas mãos de benfiquistas. Mentiu. Mas os adeptos do Benfica também podem dizer adeus a um treinador que também disse que quando os visse iria embora. Não foi e depois diz que nunca o disse. O FCP merece-o.

domingo, outubro 16, 2005

CONTRASENSO convida

Amanhã deve estar nas bancas A Voz de Loulé de 15 de Outubro. Neste número, a coluna "Contrasenso" conta com a participação de Luís Guerreiro, com um trabalho sobre Ataíde Oliveira, que pode ler aqui:
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Ataíde de Oliveira, Benemérito do Algarve
Quem o assim apelidou, entre outros encómios, foi o grande Mestre e sábio Leite de Vasconcelos nos primeiros anos do séc. XX. Francisco Xavier de Ataíde Oliveira morreu em Loulé, em 20 de Novembro de 1915, portanto, há exactamente noventa anos. Foi um notável investigador, escritor, jornalista e sobretudo um grande monografista. Pode-se discutir o estilo, se era ou não um bom prosador, se as suas obras têm muitos ou poucos erros, mas ninguém pode pôr em causa a valia do seu trabalho, a dimensão do seu legado e o pioneirismo no Algarve de muitas áreas que aflorou. É evidente que as Monografias posteriores passaram a ser mais perfeitas, tendo presente que quem cultivou o género tinha outra preparação, outros domínios do saber e outras facilidades de investigação. Por exemplo Estanco Louro que escreveu uma excelente Monografia de S. Brás de Alportel tinha formação académica adequada com conhecimentos de arqueologia, etnografia e epigrafia. Ataíde Oliveira era Bacharel, formado em Teologia e Direito pela Universidade de Coimbra. Julgo que depois de receber as Ordens de Diácono e Presbítero, nunca exerceu o sacerdócio, embora fosse carinhosamente tratado por muitos louletanos por Padre Ataíde ou simplesmente por Padre pelos adversários políticos. Ataíde de Oliveira era do Partido Regenerador e um grande amigo e correligionário do grande Louletano Dr. Marçal Pacheco, político de grande prestígio, Deputado e Par do Reino . Aliás, diz-se que foi graças a esta amizade que Ataíde Oliveira ficou devendo a sua nomeação para Conservador do Registo Predial de Loulé, porque como era padre estavam-lhe interditos a ocupação de certos cargos públicos.
Ataíde Oliveira fundou o primeiro jornal que Loulé teve, em 31 de Março de 1889, “O Algarvio” e colaborou com dezenas de periódicos.
Da sua obra publicada em livro deixou-nos os Contos Infantis, Mouras Encantadas, Contos Tradicionais, Romanceiro do Algarve, Biografia de D. Francisco Gomes de Avelar e Memória do Bispado do Algarve e Monografias de Loulé, Algoz, Olhão, Alvor, Vila Real de Santo António, S. Bartolomeu de Messines, Paderne, Estombar, Porches, Luz de Tavira e Estói. Temos que admitir que perante uma tão vasta bibliografia, aliada à permanente actividade jornalística, numa época em que o Algarve estava praticamente isolado do resto do País, com dificuldades de acesso à Torre do Tombo, aos Arquivos Públicos e à inexistência de boas Bibliotecas, o seu labor deve ter sido extremamente difícil e extenuante. O que lhe valeu foi uma boa rede de conhecimentos pessoais, em particular os Padres das freguesias e muito especialmente o povo, guardião de tradições e saberes que não estão escritos em nenhum lado. Conta o Dr. Guerreiro Murta, que o conheceu pessoalmente, que Ataíde Oliveira convidava as pessoas mais idosas das freguesias a virem ao seu gabinete de Conservador do Registo Predial, onde mercê da sua simpatia e trato fácil, registava estórias, contos e velhas recordações, pagando aos mais pobres um pataco (40 réis) por cada lenda e conto ou por cada feixe de quadras. Foram estas pessoas a principal fonte do seu trabalho. Quando Ataíde Oliveira morreu em 1915, na terra que ele escolheu para viver ( ele era natural de Algoz- Concelho de Silves), Manuel Viegas d´Olival escreveu num jornal de Loulé, “O Primeiro de Maio”: “ O que o Algarve lhe deve, desculpai-me a franqueza é quase ignorado no Algarve. As suas obras literárias sobre o Passado e os encantos do Algarve elevaram-no à categoria mais alta dos homens de Letras do nosso País. Ataíde Oliveira trabalhou pela sua Província e por esta terra como um fanático trabalha pelo seu ideal”.
Quando em 2005, se assinalam noventa anos sobre a sua morte e no Algarve se comemora uma Capital da Cultura, com um Programa diversificado em vários domínios, entre os quais um conjunto de conferências sobre Ilustres Personalidades das Letras do Algarve, é pena que ninguém se tenha lembrado do maior Monografista do Algarve e um dos maiores regionalistas de sempre, com todo o significado que isso possa ter. É certo que uma Editora privada nos últimos anos tem vindo a reeditar a sua obra, que o Dr. Mário Lyster Franco tenha proposto em 1930 uma grande homenagem ao insigne investigador com a colocação do seu busto no Largo de S. Francisco em Loulé, mas neste ano especial nem uma palavra sobre Ataíde Oliveira, nem um Colóquio, um folhetozinho, um Workshop, uma medalha evocativa. Tenho esperança que ainda se faça qualquer coisa.

[Luís Guerreiro]
*
nota: a coluna em papel é acompanhada de uma foto de Ataíde Oliveira.

Benfica

O erro de Baía - ao contrário de Koeman - foi ter convidado Nuno Gomes para o seu aniversário.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Os golos

Os embevecidos com os recordes, não sabem fazer contas. Dizem que Pauleta ultrapassou o recorde de golos de Eusébio. Fez mais um golo, em treze jogos a mais. Onde é que está o recorde?
Entretanto Medeiros Ferreira acha que tudo isto é por ter caído um mito do salazarismo. Afinal, salazarismo é fazer deste fait-divers, um mito.

Harold Pinter

O homem dos "diálogos banais", que escrevia as peças para si e falava publicamente para os outros, venceu o prémio nobel da literatura. Não foi o primeiro dramaturgo a receber o prémio. Antes, já Dario Fo, o autor de Um homem é um homem, o havia recebido.

quinta-feira, outubro 13, 2005

a ler

eleições

sim, eu sei que devia falar das eleições na minha terra. mas dizer o quê? talvez a expressão "é a cultura, estúpido!".

Reflexão

Compreendo que a reflexão seja necessária. Mas uma reflexão nunca poderá ser eterna, sob pena de se tornar a confissão eterna do pecador. Ora, uma reflexão exige uma evidente flexão, uma descida terrena aos crentes que precisam de ler para crer. Mesmo que tenha acontecido um desastre.

terça-feira, outubro 11, 2005

Mais leituras

Uma das minhas revistas de leitura na Net: Semana 3. Este mês com uma entrevista a Paulo Francis, sempre divino, feita pelo seu melhor colunista. Claro, Alexandre Soares Silva.

Leituras castas

Jeitinho
Sou proselitista. Creio que o cristianismo é a única religião verdadeira e que toda a pessoa deve converter-se ao Senhor Jesus. Mas sou um proselitista gentil. Não meto conversa com ninguém para lhe falar das coisas espirituais. É pouco educado e de estilo tem zero (o cristianismo converte com estilo).O apelo dos evangélicos à conversão dos outros chega a ser abjecto. Uma extrema-unção a meio da vida. Parecem desesperados para que todos emitam a mesma prática litúrgica, mastiguem a mesma hóstia, sincronizem o mesmo aleluia. A vantagem de um proselitista gentil é que sendo calvinista e descrendo do livre-arbítrio, como eu, concede que nem todos nascemos para o mesmo. Que é como quem diz, posso sentir-me bem mas tu podes sentir-te bem sem te sentires bem do modo como eu me sinto bem. Não é relativismo moral. É tratar a vontade das pessoas com jeitinho.

Regressos

É bem sabida a dificuldade de encontrar jaquinzinhos no mercado blasfemo do Porto...

segunda-feira, outubro 10, 2005

Sim, a chuva caiu

lavou o pó do chão e reverdeceu as árvores. estava fria no dorso. mas ainda não lavou tudo. faltam as almas penadas.

sábado, outubro 08, 2005

Leitura de fim de semana

Para ler neste fim de semana de reflexão e eleição, nada melhor que a obra completa de Margarida Rebelo Pinto, com a arguência pachequiana de João Pedro George.

Trabalhos de Hércules

1. O arquivo do Lobo foi acrescentado de mais três crónicas antigas: sobre Maria Rosa Colaço, pedagoga; as mulheres no sistema político; e democracia, futebol e apito dourado (tudo publicado em A Voz de Loulé).
2. O estudo sobre o folclore em Alte foi acrescentado com as pequenas biografias dos três homenageados nas comemorações do 67º aniversário do Grupo Folclórico de Alte.
3. O meu blogue académico mudou de nome.

Os piores cartazes da campanha

O Algarve consegue colocar quatro (4) nomeados no conjunto dos 14 piores cartazes da campanha eleitoral autárquica. O primeiro nomeado é mesmo o cartaz de Fialho Anastácio do PS de Tavira. Pode ver os piores cartazes e votar no seu eleito aqui.

Esclarecimento do "Público"

O livro de estilo do Público permite que exijamos do jornal uma resposta a esta micro-causa:

quarta-feira, outubro 05, 2005

67 anos do Grupo Folclórico de Alte

Faz hoje 67 anos que a aldeia de Alte andava em polvorosa. A terra participava no Concurso da Aldeia mais Portuguesa de Portugal e era o dia em que o júri nacional a visitava, para deliberar sobre a sua eventual selecção. Essa é outra história para outros locais. Nesse dia, um grupo de gente dançou as modas de roda, o baile mandado e o corridinho em vários sítios da aldeia. Foi a primeira actuação pública daquele que viria a designar-se como Grupo Folclórico de Alte (GFA), hoje ainda existente e, por isso, a comemorar exactamente 67 anos.
Vem isto a propósito da investigação que estou a realizar, há meio ano, sobre a história do GFA, a convite da sua direcção e com vista à publicação de um livro. Acontece que a investigação – de acordo com a minha ética – tem estado no campo privado, sendo do conhecimento de alguns amigos e dos membros do GFA, naturalmente. Como a minha opção metodológica se inscreve numa perspectiva participativa, os dados da investigação são partilhados com muitas pessoas, tendo alguns deles sido já publicados (os que estão prontos para o efeito). Parte desse material tem estado guardado num suporte cibernético como reserva da investigação. Hoje, exactamente no dia do aniversário do GFA, decido abrir o blogue Folclore em Alte à curiosidade alheia e à sua eventual participação.

terça-feira, outubro 04, 2005

Intelectual leninista

Para que raio precisavam os bejenses, ouvintes de Jerónimo de Sousa, de saber que Jorge Coelho em tempos pertencera ao radicalismo pequeno-burguês?

segunda-feira, outubro 03, 2005

O anonimato da cobardia

O aparecimento do Folhadalte foi uma lufada de ar fresco no jornalismo online no Algarve. Se pensarmos nas pequenas aldeias do país, esta experiência pode ser considerada pioneira e de vanguarda na cidadania tecnológica. Mas estes suportes estão sujeitos a vilipêndios de todos os tipos. Em geral de gente sem auto-estima, que habitualmente se esconde no anonimato e em pseudónimos abstrusos, com vista à ofensa e ao boato. Tive a oportunidade de colaborar com o Folha, deixando vários comentários e alguns artigos. Sempre assinados, e com o link para o meu blogue onde também está o meu nome. Muitas destas participações deixaram lastros de polémica. E aí apareciam sempre os cobardolas, escondidos na insídia, na maledicência e até na ameaça. Por isso era de esperar que o Folha, neste contexto de eleições autárquicas, sofresse um ataque na caixa de comentários. Esperemos que o Zé e o Rui expliquem melhor o que se passou e que, apesar de algumas dificuldades, possam identificar e proceder judicialmente os seus autores.

domingo, outubro 02, 2005

Alegre na 2ª volta

Quando o jornalista lhe perguntou se apoiaria Soares caso este passasse à 2ª volta, Alegre foi contido: Claro, não teria problema em votar nele. Mas, de seguida, foi lapidar e talvez premonitório: Mas parece-me que é ele que vai ter de votar em mim. Entretanto Carvalhas, ex-secretário geral do PCP, apoia Alegre. Entretanto, ontem, José Fanha declamou um poema de Alegre perante a Casa do Povo de Alte, bem cheia. Não quererá dizer nada, mas pode dizer tudo.

sábado, outubro 01, 2005

"Contrasenso" convida

Maria Amália Cabrita é a convidada da coluna Contrasenso, em «A Voz de Loulé» de 1 de Outubro:
*
A metáfora dos incêndios

A propósito dos fogos que queimaram uma boa parte do país durante os três últimos meses, naturalmente que muito se falou, escreveu e – talvez mesmo – ouviu em Portugal.
Em várias dessas comunicações, os incêndios ganharam um conteúdo simbólico, que os tornou ainda mais assustadores e negativos do que já eram. Graças a esse conteúdo, tornaram-se numa espécie de reflexo da debilidade nacional. A sua existência, o seu número e mesmo a sua extensão provaram – mas quem precisa agora de provas? – a incapacidade da sociedade portuguesa para prevenir e remediar catástrofes, bem como a descoordenação dos serviços do Estado. Indo um pouco mais longe, em algumas opiniões os fogos já não se limitavam a reflectir essa anomia social: eram vistos como sua punição, tal como se algum Jeová reformado e já sem a capacidade de expedir cometas os tivesse enviado para fazer reentrar os portugueses no caminho da “ordem e progresso”.
Em resumo, os fogos abriram e fecharam os noticiários, foram as figuras do mês e quase todos os candidatos a escrutínios próximos os visitaram (metaforicamente, como se compreenderá dadas as altas temperaturas que irradiam das matas durante a combustão).
Poderá valer a pena averiguar o que há de instrutivo nesta piromania colectiva. Não à maneira dos Plutarcos e das lições da História (da qual nem o próprio Plutarco fazia assim tanto caso) mas com a ilusão de encontrar pequenas verdades domésticas.
Está fora de dúvida que a consciência colectiva identificou bem o objecto e viu bem porque é que com os fogos não se brinca. Os fogos estivais já são o nosso ex-libris, aquilo por que somos conhecidos em todos os países que sintonizam a Euro-News (quanto aos outros, é impossível dizer como ou se nos recordam).
Também é um facto que os ditos fogos só acontecem em Portugal porque a nossa sociedade é na Europa aquela que mais se parece com a que Thackeray descrevia como “anarquia completa, tendo só a polícia a mais”. Para que isto não pareça muito excessivo, bastará recordar-nos:
1º, do que foi a compra desenfreada de terrenos por parte das celuloses nos últimos 25 anos e a correspondente eucaliptização do país que o tornou um previsível coktail molotov desde 1985 (!). Temos a maior mancha de eucaliptos da Europa e veja-se sobre isto um dos relatórios da OCDE desse ano sobre Portugal, que alertava para a combustibilidade acelerada que o país estava a ganhar;
2º, do que foi o abandono quase completo da agricultura, que aliás está na base da florestação comercial do ponto anterior, sem ninguém ligar um chavo ao que ia acontecer quanto à limpeza das matas (e que matas!) no futuro;
3º, do ordenamento territorial e dos famosos PDM, outro dos nossos ex-libris que, da forma libertária que nos caracteriza, só excluem a construção de casas nos braços de mar e nos lagos (em certos cursos de água, quando secos, existe direito consuetudinário favorável);
4º, do pormenor pitoresco de Portugal ser o único país da Europa do sul sem frota aérea de combate a fogos, não sendo este facto consensualmente negativo (muitas empresas de aluguer de helicópteros acham isto natural);
5º, do zelo com que todos os anos se reformam os serviços de coordenação e se vão acrescentando instâncias, órgãos (com as correspondentes siglas e postos de chefia) e centros de comando;
etc, etc.
Quando se pensa nisto tudo, não há que fugir, os fogos ganham um estatuto de consequência inevitável. Estiveram aí porque não podiam deixar de aparecer, tudo estava a pedi-los. Ah, e nem é preciso ir buscar os efeitos de estufa ou coisa que o valha, mesmo que isso se possa provar. Estavam reunidas todas as condições e a verdade é que o país, lá no fundo, estava à espera deles.
Mas isto basta para fazer deles metáforas? Talvez ainda não. As borbulhas são um sintoma do sarampo, não são a metáfora do sarampo. Os fogos de verão são as consequências do nosso estado civilizacional, não o simbolizam.
Mas há um aspecto em que talvez legitime o uso metafórico que a nossa comunicação social fez deles e que aí sim, representam bem a nossa sociedade. É o seu carácter meteórico, efémero (flamejante aqui parece um adjectivo um pouco de mau gosto) e sazonal. Os fogos tiveram a sua hora de glória mas – sic transit gloria mundis - já passou. Agora já a Casa Pia e tuti quanti recuperaram o seu lugar. Em Dezembro teremos, espera-se, o protagonismo de Reguengo do Alviela e das zonas baixas do Ribatejo. Os fogos terão de esperar por Junho e pela nova época balnear para voltarem a ser entrevistados.
Enfim, se há metáfora é esta: os fogos são previsíveis, como tudo o que acontece por cá.

O regresso do Marquês de Pombal

Sebastião José de Carvalho e Melo não faria melhor slogan de campanha.

quinta-feira, setembro 29, 2005

A magistratura de Soares

«Podemos imaginar a "magistratura de influência" de Soares abrir as portas a tudo o que é contestação ao Governo, apoiando ajuntamentos de rua, manifestações unitárias, congressos vagamente "de reflexão", além de conspirar para mudar o PS e expulsar Sócrates, os herdeiros de Guterres e, agora, de Alegre.Porque, a verdade é esta se Soares não vem fazer isso, que é o que sabe fazer bem, que vem Soares fazer a estas eleições? É preciso saber. É por isso que os jornalistas, "eles", devem fazer perguntas.».
[Francisco José Viegas no Jornal de Notícias de hoje]

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A partir de agora, e durante algum tempo, até o spam esquecer as referências deste blogue os comentários ficam fechados. Quando a paz voltar ou encontrar algum filtro para o lixo, a caixa retornará. Até lá o Email, que tem alguma protecção, pode ser usado pelos leitores.

Quem é que querem convencer?

Jorge Coelho, ainda há pouco na Quadratura do Círculo, lá afirmava a contento que o PS só tem um candidato à presidência. Que se saiba Manuel Alegre não é militante destacado do PS, uma das suas referências históricas, vice-presidente da AR, ex-candidato a líder do partido e falante num comício da campanha. Portanto, diferente de Soares, que segundo Coelho deve ser tudo isso.

O regresso da Revolta

Há tempos, José António Barreiros deu por finda a sua presença na blogosfera. Agora que arrumou a casa, ou melhor, os casos, voltou com a Revolta das Palavras, um blogue construído com palavras certeiras sobre literatura, política, sociedade. Aliás a Revolta veio no seguimento da saída do autor como colunista do DN, onde escrevia sobre esses temas. Mas JAB vem, desta vez, com muitas outras facetas: literatura, direito, história. Tudo em blogues diferentes. A ler com atenção!

terça-feira, setembro 27, 2005

Quantos são, quantos são?

Como se esperava, a candidatura de Alegre começa a incomodar cada vez mais.

A moda é a mãe

Tinha-me esquecido de ler a coluna do Alexandre. Tudo por causa do debate do século.

Icterícias

«Do fundo dos lençóis brancos e lavados ela sorriu amarela no sorriso e na tez bonita e eu perguntei-lhe o que pensava do doutor Cordeiro e do ministro Campos e do doutor Nunes e dos outros doutores todos que abundamos e ela não respondeu e perguntou-me se eu também queria saber o que ela pensava de mim e eu disse que não sabia se queria.». A ler no Blogame mucho.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Filho pródigo volta sempre

Fora do Mundo há algum tempo, Pedro Mexia voltou à blogosfera with a new skin for the old ceremony.
Entretanto o nosso LN parte para outra estrada.

Certeza socrática

É evidente que a Sócrates - com a sua crescente tendência para a vitimização - interessa-lhe governar com um presidente à sua direita. Só assim justificará a sua política nos próximos tempos, difíceis, muito difíceis. Por isso Soares não é o presidente que lhe interessa como opositor. Por isso apostou nele para perder contra Cavaco. Só que o aparecimento de Alegre baralhou as suas contas. E isso irrita-o como nunca.
[Ver também aqui].

Alegre que o põe triste

As respostas, "riscadas", de Sócrates aos jornalistas sobre qual era o candidato do PS só querem dizer uma coisa: ele não está preocupado com a eventual derrota de Soares contra Cavaco. Ele agora está é preocupado com a eventual vitória de Alegre sobre Cavaco. Cappice? Amanhã explico.

domingo, setembro 25, 2005

Alegre ma non troppo

Aí está: Alegre já é candidato à presidência da república. Muitos alimentavam esta esperança e ela aí está para pôr os cabelos em pé a Sócrates e irritar Soares. Talvez assim possamos assistir ao apelo de Soares e do PS para votarem em Alegre na 2ª volta. Essa é a democracia.
Sei de alguém que desde ontem esfrega as mãos de contente.

Votos bem pagos

Quantos votos vale o pequeno parque infantil da Mira Serra? É a pergunta que se pode fazer, agora que a freguesia de S. Sebastião anda toda em alvoroço com as obras da campanha. Decerto valerá mais uns votos, para somar à demagogia populista do presidente da Junta com vista à sua reeleição. As Juntas e os partidos que as apoiam hoje, não são mais do que máquinas de caçar votos. Toda a disputa é feita sobre as obras que se fazem ou nunca se fizeram. Os cidadãos são esmifrados e abandonados durante quase quatro anos para depois assistirem a um chorrilho de aldrabices e a um gastadoiro de dinheiro. As campanhas não são só os cartazes que se colam. São sobretudo as obras que se fazem à última da hora.

Segredos de alcáçova

O caso Felgueiras cheira mal. E os odores talvez venham dos receios do que se contaria em tribunal no julgamento. Por isso Sócrates sabe que Felgueiras deve ser inocente. Por isso o PS envia Almeida Santos para apoiar a candidatura do partido em Felgueiras. Enquanto a outra faz o seu passeio na avenida.

sexta-feira, setembro 23, 2005

Carpinteiros

Joana Amaral Dias, dirigente do Bloco de Esquerda, é a mandatária nacional para a juventude da candidatura de Mário Soares. Deve ter sido Medeiros Ferreira que a convenceu. Isto, por culpa de misturarem bichos carpinteiros de oficinas diferentes.

Ocupado

Pois é. Ocupado, muito ocupado, tenho andado por aqui. E por lá vou continuar.

quinta-feira, setembro 22, 2005

quarta-feira, setembro 21, 2005

Veja lá se a sua cara não aparece

Em Vila do Bispo (Algarve), um dos concelhos mais pobres do país, o PS gasta mais na campanha autárquica do que na capital do distrito. Tudo porque não há ninguém que não apoie Rui Correia: aquilo são pescadores, bodyboarders, reformadas, inglesas...

terça-feira, setembro 20, 2005

Uma poeta solar

FIM DO DIA

A tarde já ia no fim,
Fazia um destes calores!
Que eu fui para o meu jardim,
Bem para o meio das flores.

Ouvia as cigarras cantando,
Em coro uma sinfonia.
E assim iam tornando,
Tão belo esse fim de dia!

Via as lindas borboletas,
Livres pelo ar voando!
Amarelas, brancas e pretas,
Iam com a brisa brincando.

E eu via tanta beleza,
Senti-me embevecida.
Tão linda é a natureza!
Meu Deus, é bela a vida!

[Albertina Coelho Rodrigues, Do Sonho à Realidade, 2005]

Albertina é uma das muitas mulheres do mundo rural que cedo começou a trabalhar no campo, sem puder aprender a ler e a escrever. Só o fez depois dos 60 anos. Mas sempre dela brotou a poesia sobre a natureza bucólica ou simbolista. É um oásis na poesia popular quase só entregue a homens. E as questões de género, aqui, não são dispiciendas, por que se trata de uma voz solar, de uma voz de poeta no feminino.

A pior das ignorantes

Ó Zé Pedro e não viste aí a águia de Bonelli?- Júlia Pinheiro para José Pedro Vasconcelos, nitidamente a chocarrear dos cidadãos que protestaram contra a instalação do quartel da 1ª Companhia, reality show da Tvi, que irá decorrer na área protegida da Serra de Sintra. E não se pode exterminá-la?

O pré-candidato

Cavaco não é ainda candidato. Mas as declarações que, hoje, fez na televisão, são já um programa de candidatura.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Eleições a que nos obrigas

Ontem, estive no lançamento do livro da minha amiga Albertina que depois dos 60 anos, quando aprendeu a ler e a escrever, começou a passar para o papel os poemas que sempre escreveu nos olhos e na fala. Na Biblioteca de Albufeira, lá estavam o presidente da Câmara e candidato a novo cargo e ainda o candidato da oposição e seu séquito, arrojando-se em voz alta aos cumprimentos à poeta. Estou como a minha amiga que escreveu o préfácio: já não há pachorra para isto.
[amanhã publico, aqui, um poema da Albertina]

Depois digam que o homem não é esperto

Não é difícil perceber que, para Sócrates, quem deve estar na presidência é Cavaco e não qualquer um ligado ao PS. Foi por isso que sempre se bateu por Guterres e depois por Soares, contra Alegre.

sábado, setembro 17, 2005

A ler,

com muita atenção, os últimos posts de Luís Guerreiro. Por lá andam António Botto, Raul Brandão e outros anónimos com história. Antes das férias lá esteve o José Craveirinha.

Sena

De uma beleza extraordinária: o documentário sobre Jorge de Sena na 2:. Beleza, sobriedade e rigor no trabalho sobre o literato perseguido pelo fascismo e ostracizado pelas capelinhas do neo-realismo moribundo. Tudo oficial, como ele diria. Não se esqueceu a recusa da Faculdade de Letras de Lisboa - em convidá-lo para docente -, manipulada, na altura, por Jacinto do Prado Coelho.

Fait-divers

Asneira da grossa. No último Voz de Loulé, a Dra. Maria João Portela, na sua habitual crónica de fait-divers, repete o erro dos preguiçosos e indigentes investigadores: Alte, “a 2ª aldeia típica mais portuguesa”. O que diremos à sra Dra? Talvez lembrando o que diz este nosso amigo.

"Contrasenso" convida:

Todos contamos histórias e eu até as escrevo
*
Todos contamos histórias, essa é que é essa, ainda que uns o façam muito melhor do que outros e com mais frequência. Diz-se que a necessidade aguça o engenho, e talvez por isso a maior parte de nós apenas conte histórias quando tem de arranjar uma qualquer desculpa. No entanto, contar histórias é talvez a característica que mais nos define como humanos e, como disse a começar, todos o fazemos. Alguns de nós até as escrevem, como eu, e gostaria de partilhar a minha experiência nesta área escrevendo com vocês algumas histórias muito pequenas, em que se mostra mais fácil perceber como são feitas.
É claro que se escreve escrevendo, tal como se faz qualquer coisa fazendo-a, por erro e tentativa, e é isso que vou fazer. Primeiro é preciso começar. Uma qualquer pequena frase (ou ideia) é suficiente.
Como por estes dias tenho ouvido falar muito do Euro Milhões e do que aconteceria a quem o ganhasse, é mesmo por aí que vou começar: "um homem ganhou o maior prémio de sempre no Euro Milhões". É afinal o que todos gostaríamos, mas o que aconteceria? Pois bem, a história poderia ser aquela mesma que todos sonhamos: (1) Era uma vez um homem que ganhou o maior prémio de sempre do Euro Milhões e viveu feliz para sempre.
No entanto, e espero que concordem, seria uma história bastante comum e aborrecida: sem mistério e sem surpresa. Vejamos pois outra possibilidade: (2) Um homem ganhou o maior prémio de sempre do Euro Milhões. Depois acordou, e foi a correr entregar o seu boletim.
É ainda uma solução fácil mas já diz muito mais que a primeira, não acham? Faz-nos pensar, faz-nos rir, perturba-nos. Como fazer então? Por que não quebrar a relação causa e efeito que se estabelece normalmente entre o dinheiro e a felicidade? Por exemplo, assim: (3) Um homem ganhou o maior prémio de sempre do Euro Milhões. Durante algum tempo foi feliz. Depois, nem por isso. Mas ainda hoje é rico.
Está um pouco melhor, abre mais possibilidades, deixa mais margem de manobra ao leitor, mas pode-se sem dúvida ir mais longe. Não é invulgar que alguém morra ao saber que ganhou bastante dinheiro, é uma história que já todos ouvimos. Experimentemos uma variação: (4) Um homem ganhou o maior prémio de sempre do Euro Milhões. A mulher deu-lhe a notícia momentos antes de o matar.
Confesso que gosto mais, é uma pequena história negra, faz-nos rir de nós mesmos. E se eu ganhasse o Euro Milhões seria que a minha mulher me mataria para o receber? – perguntamos a nós mesmos e rimos, rimos ao mesmo tempo que ponderamos a possibilidade de a nossa mulher preferir o prémio a nós.
Também se pode perguntar o que seria menos provável que acontecesse a alguém que ganhasse uma grande soma de dinheiro. Já pensaram? De certeza que dará uma boa história: (5) Um homem ganhou o maior prémio de sempre do Euro Milhões. No dia seguinte suicidou-se. A decisão estava tomada há muito.
Contra todas as probabilidades ele não muda os seus planos de morte, e nós rimos um riso amarelo, intrigados e desconfiados dos nossos próprios desejos. Parece-me bastante bem, modéstia à parte.
Claro que podia continuar a contar histórias a partir dessa frase, mas este artigo está a chegar ao fim, por isso só acontecerá se vocês o fizerem. Estejam à vontade, contem mais histórias.

[Luís Ene- publicado na Voz de Loulé de 15 de Setembro]

sexta-feira, setembro 16, 2005

Vendemos tudo

A avaliar pelo despacho sobre a venda de medicamentos fora das farmácias, talvez se encontre uma boa solução. Depois de vender o Paulo Coelho, talvez os CTT passem a vender medicamentos sem receita médica. Eu aposto!

Nascimentos

A Sic informou: Britney Spears foi mãe, de cesariana. E já agora, o Público também: João Pinto e Mariza Cruz tiveram um filho.

Ó pra eles

Dois dias. Dois atentados: no primeiro 150; no segundo 15. Mortos, claro. E assim prossegue a pacificação e a implantação da democracia no Iraque. Só falta mesmo a Constituição.

f.

Fernanda Câncio (f.) voltou ao Glória Fácil. E desta vez com oito postas de seguida. Leiam esta: «bem me parecia que aquilo que o manuel alegre disse em viseu foi que não dizia nada sobre o que tinha a dizer. ainda ontem voltou aliás a dizer o mesmo».

quinta-feira, setembro 15, 2005

A ler:

sobre Macário e outros candidatos de Tavira no "Dolo Eventual".

Silêncio

Pronto, está bem, já que ninguém fala falo eu. Custa muito dizer que o Benfica venceu?

É por estas e por outras que sou não-alinhado

Confesso que também não percebi as perplexidades de Paulo Sucena, dirigente da FenProf (a federação sindical na qual se integra o sindicato em que estou filiado), ao referir-se à degradação dos professores por via do alargamento do horário escolar. Sabemos que os horários lectivos dos professores são longos, mas são só para alguns. Muitos fazem da profissão um descanso. E o mais importante: estar mais tempo na escola significa estar mais tempo com os alunos. A avaliar pelo estado do nosso ensino, será melhor reflectir antes de declarações do tipo das que são reproduzidas aqui (li-as também no Público de ontem). Talvez os professores pudessem aprender com os seus colegas das escolas profissionais, que passam 35 horas semanais nas suas escolas e, como se sabe, obtêm excelentes resultados. A prova é que todos os anos muitos alunos esvaziam as salas de muitas escolas públicas para enveredar por este tipo de ensino. E se o digo, é porque sei do que estou a falar.
*
Ler também aqui.

Para as contas do Tribunal

O PS perde-se em explicações sobre a competência técnica e a seriedade de Oliveira Martins, para justificar a sua nomeação para o cargo de presidente do Tribunal de Contas. Quanto a mim não lhe reconheci grande competência aquando da sua passagem pelo ministério das finanças. Como ministro da educação também não deixou marca que se visse. Talvez como presidente do Centro Nacional de Cultura seja mais reconhecido. Mas dando o benefício da dúvida, relativamente a competências e seriedades, o que se põe em causa são apenas motivos políticos: o facto de o indigitado ser deputado do PS, membro de comissões do parlamento e portanto detentor de informação decisiva, que será afecta a um cargo que se pretende fiscalizador, não só de interesses privados como se julga. Ora o governo, regendo-se pela fiscalização de si próprio, põe em causa a independência de poderes e a separação política dos mesmos. O caso do tribunal de contas não seria tão importante se fosse casuístico. Mas não é. O caso Vitorino acresce-lhe mais umas preocupações, perante a odisseia de ocupação do estado pelo partido do governo. O que, reconheça-se, não é bom para qualquer democracia.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Em defesa dos animais

Recebi no Email um vídeo da associação Animal sobre maus tratos a animais com vista à utilização das suas peles no vestuário da moda. A "estilista" Fátima Lopes é uma das visadas no filme já que, como se sabe, é uma pateta defensora das "peles naturais". Aviso que o vídeo é susceptível de criar constrangimentos. Para o ver clique na palavra sublinhada.

Leituras

Uma prosa deliciosa:
«O 11 de Setembro de 2001 marcou o início de uma guerra prolongada contra o terrorismo e provocou enormes fracturas no chamado mundo ocidental, civilizado, que se gabava de viver em paz, mesmo com a ameaça soviética bem presente, desde o fim da II Guerra Mundial». O autor domina como ninguém as relações de política internacional.
«A vida, na Europa, na América, na Ásia, em África e na Oceânia, alterou-se radicalmente a partir do 11 de Setembro». É um conhecedor profundo da geografia política.
«E na campanha presidencial o mais certo é não haver nenhum candidato de direita. Soares, Cavaco, Jerónimo, Louçã e Alegre serão todos de esquerda, com medo de Alá». E nada lhe escapa dos verdadeiros meandros dos candidatos presidenciais.
Também há quem diga que este autor bebe muitos cafés. Ele é um ex-subdirector do Diário de Notícias com direito a página online e às vezes convidado pelas televisões. Aprendamos com o mestre.

Dicionário do crente

Mudança para o futuro
honestidade para todos
coração com rumo
trabalho feliz
obra competência
dinamismo alegre
renovação a sério
tem solução.

O léxico do 9 de Outubro.

terça-feira, setembro 13, 2005

Populismo

Evito circular de carro pelas velhas artérias de Loulé. Por isso já há muito tempo que não passava junto do jardim do Bonnet, hoje parque de estacionamento provisório da Câmara. Quando dei por mim ia em sentido contrário. E tudo porque não há nenhuma perpendicular à Gil Vicente que não esteja em obras. Conheço aquelas ruelas há muitos anos, a degradarem-se quotidianamente num dos miolos mais interessantes da urbe. Hoje, parecia que perante os meus olhos desfilavam todos os dias dos últimos 12 anos, tudo concentrado nos poucos dias que faltam para as eleições autárquicas. E lembro-me que há tempos o António Almeida denunciou – e bem – esta pequena miséria escondida, sugerindo obras na área. Ninguém esperava é que o populismo fosse tão longe. A conclusão é que as obras não são do presidente da Junta mas do candidato independente do PS a presidente da mesma.
Almeida não queres fazer mais fotografias da freguesia? Vais ver que até 9 de Outubro é um ver se te avias.

Aulas

Há um ano atrás, quando se iniciou o ano lectivo, nem o primeiro ministro (Santana Lopes) nem o ministro da educação (David Justino) compareceram na abertura. Uma vergonha que muita gente denunciou. Apesar de algumas sombras a pairar, é de destacar o contrário, este ano. E lembrar que a Sic (o único canal que vi) falava da abertura a meio gás, hoje, quando a data para abertura do ano lectivo decorre até 16 deste mês. Um enviesamento jornalístico manipulador.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Post artístico

Só hoje, em Quarteira, é que descobri que o topónimo emerge do conceito de arte. Ai, se não fossem os marketeers das campanhas, que ignorantes que nós éramos.

domingo, setembro 11, 2005

Pós-colonialismo

O Expresso, deste sábado, na sua análise às previsões das eleições autárquicas refere-se ao distrito de Faro como sendo o Algarve, ao contrário da forma que utiliza para designar todas as outras regiões. Pós-colonialismo, é como se chama este conceito de legitimar as bajulações dos que vendem o Algarve todos os dias.

Pelos caminhos de Portugal...

Para não dizer que nada sabe das autárquicas tem uma oportunidade no Dolo Eventual. Então a rubrica Pelos caminhos de Portugal vale bem a pena. Dê uma vista de olhos clicando na palavra sublinhada.

Dique, dique

«Para José Pacheco Pereira (Historiador*, Público de ontem , link não disponível) há culpados para o desastre de New Orleans. A natureza e a os anti americanos primários. A natureza e os herdeiros do Cominform e do gaullismo. E os jornalistas claro...». Ler com atenção n'A Natureza do mal.

sábado, setembro 10, 2005

Esplanar

Para saudar o regresso de João Pedro George ao "Esplanar": críticas aceradas ao Equador de Miguel Sousa Tavares e muito mais. E não deixe de ler a excelente (e grande) entrevista com o nosso maior libertário (ou libertino, como queiram) Luiz Pacheco. Mesmo que o faça em vários dias.

Há quanto tempo não ouvia isto?

Água lita,
pirolita,
bacalhau,
sardinha frita.

Anda o meu filho mais novo a cantarolar a toda a hora.

sexta-feira, setembro 09, 2005

De volta ao anti-americanismo

A chamada “cruzada anti-americana” continua a ser alvo de textos sociológicos. Pacheco Pereira escreve no Público sobre a metáfora religiosa da condenação americana. Quase sempre se atropela confundindo conceitos importantes, como o de povo e de poder. Talvez porque a tragédia de New Orleans mostra a verdadeira face de uns Estados Unidos dilacerados por um fosso cada vez mais extremo entre pobres e ricos. O último relatório do PNUD mostra isso (link uns posts abaixo). É evidente que disso já se sabia. Mas a tragédia tem sempre este efeito, sobretudo se ampliada pelo furação dos media. Mas o mais interessante é verificar a clivagem interna nos EUA. E mesmo aí, insuspeitos e conservadores analistas vêm defendendo a mesma opinião (ver The Economist). A de que a administração Bush foi incapaz, e está a sê-lo, de atacar o problema (vê-lo aqui a tocar guitarra no dia do furação). Por que se trata de um problema de classe: de um problema de pobreza no seu país.
[Agradecido às minhas fontes: Causa Nossa e Bicho Carpinteiro.]