domingo, dezembro 26, 2004

mensagens erradas

Não há nada que me apeteça mais, nestes dias, do que desligar o telemóvel. Não tenho muita paciência para o “bom natal” de boca vazia e ouvido na radiação. O que me dá prazer, isso sim, é no dia seguinte ouvir ou ler as mensagens e perceber que aquelas que gosto mais, não eram decerto dirigidas a mim.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Poemails

[Vais-me desculpar: um poemazinho ou outro, lá de quando em vez, tudo bem. Mas isto começa a ser insuportável... Tantas coisas a acontecer em Portugal e no mundo, tantas coisas decisivas, fundamentais - e tu a dar-lhe com «os pássaros do outono», «as mãos das mulheres a mexer indiferentes na água fresca dos púcaros», «o silêncio das manhãs crescendo no interior dos retratos antigos»... Desculpa, mas não há pachorra...]. Confesso a imensa saudade desta verve crítica permeada de beleza literária.

quinta-feira, dezembro 23, 2004

...o ar generalizado de mediocridade...

«Não deve ser do Natal, é do ar generalizado de mediocridade que se respira e da convicção cada vez mais arreigada no eleitorado que pouco mudará nas políticas a curto prazo e não haverá políticas a mais nenhum prazo - ou seja, o que há de fundo para mudar continuará intangível». José Pacheco Pereira, no «Público» de hoje.

REPROGRAMAR FARO, CAPITAL NACIONAL DA CULTURA, 2005

(publicado, hoje, no jornal «barlavento»)

Nove milhões e meio de euros é muita nota. Tanta, que merece mais umas pequenas notas a acrescentar ao orçamento de Faro, Capital Nacional da Cultura 2005. Uma missão que, disse em tempos o secretário de estado dos bens culturais, iria transformar a face do Algarve. Declarações megalómanas para quem nada conhece do Algarve e por estes dias vive os seus últimos dias de gestão corrente. Aliás, nunca vi nenhuma campanha que mexesse fundo nas estruturas culturais. Bem, só a célebre campanha do trigo de Salazar, nos anos 30 e 40 do século passado. Mas essa destruiu os solos das florestas e das sementeiras, de outras culturas. No mesmo sentido, esta é criada de cima para baixo. Lisboa decide e Faro alinha, quando ainda marcava a agenda cultural no Algarve. Mas isso foi há tempos e em anterior gestão. Projecta um teatro municipal, que já vem do tempo do ministro Carrilho, que parece ser a nossa senhora do programa da capital da cultura, uma santa Engrácia que nunca mais fica pronta. A cidade arma-se toda, convoca a Santa Maria de Faro para imagem de marca, mas esquece os agentes culturais [já disse que sempre preferi a expressão actores] que há muito desenvolvem um trabalho estrutural em pesquisa e produção cultural. Sem dinâmica cultural, o município que governa a cidade, é como aquele jovem rei que não pode e menos sabe governar e convoca para seu regente alguém de outro reino. Os programadores culturais são prova disso: Jorge Queirós nas artes plásticas; Luísa Taveira na dança; Miguel Abreu no teatro; a Universidade do Algarve e Pedro Ferré na literatura; ninguém na música, nem música nos dão. Conhecem? Eu também não! Eu, a pensar, na minha “ingenuidade provinciana”, nos nomes de Manuel Batista, António Laginha, José Louro, Nuno Júdice, pela mesma ordem de funções; e para a música José Eduardo. Qual quê! Programar Faro, Capital da Cultura, com algarvios, ainda por cima competentes, seria “saloice” a mais [Lisboa dixit], nada melhor do que descentralizar comissários da capital, a verdadeira, como se fez com os secretários de estado há uns meses, lembram-se? Por isso dou por mim a pensar: será que vai acontecer à Comissão de Faro, Capital Nacional da Cultura, o mesmo que aconteceu ao governo, ou ela antecipa-se?

[Nota: depois da escrita deste texto, vim a saber, via «Expresso», que aos nomes dos programadores foi acrescentado o de Anabela Moutinho, no cinema e de Luís Madureira, na música. Portanto, nada do que afirmo no texto é posto em causa].

TPCs

Em tempo de férias e trabalhos para casa:
«Esta tendência para «imbecilizar» as crianças – que não é mais do que uma forma de menosprezar e desvalorizar as suas reais capacidades - vem de longe e continua presente em muitas discussões sobre o «ensino». Repare-se no mais recente caso, ou no mais recente anátema, que meia dúzia de pedopsicólogos e pedadogos acaba de lançar à liça: os «trabalhos para casa», vulgo TPC’s». McGuffin no contra a corrente.

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Simonia, bucolismo e conga irlandesa

«Toda pessoa de alguma inteligência sofre de anglofilia, nada contra o Brasil. Tentei a ironia, quando criança, e as pessoas achavam que eu estava engasgando, nunca mais. Em síntese: simonia, bucolismo e conga irlandesa». Dante, em entrevista à «Folha».

Recortes de jornais

Só hoje encontro e leio o meu texto publicado no jornal «Público» e recorto-o lembrando algumas das suas palavras: «Portanto, uma espécie de pró-governo regional, que reivindica poderes e lugares, numa altura em que as portagens não existem e muito antes de os protestos terem cabimento, ou seja em 2005, ou 2006. Mas tem sentido ganhar apoios agora, para jogar depois». Escrevi isto a 14 de Novembro e o jornal publicou a 19. Depois disso, o presidente dissolveu o parlamento e decidiu a convocação de eleições antecipadas; a comissão contra as portagens no algarve diz-se atenta; o governo enterra-se num crash inédito em Portugal. Há momentos em que não sabemos se devemos ficar contentes ou tristes por termos tido razão.

O grau zero da política

José Luís Peixoto questiona o grau menos que zero dos comportamentos oposicionistas dos eleitores, a propósito da contestação à co-incineração, já defendida pelo putativo candidato a primeiro-ministro. No algarve, também está em banho-maria a contestação às putativas portagens da via do infante. A oposição já não se faz às práticas da política mas sim às intenções de candidatos. Contesta-se o futuro, no presente que já é passado.

A mulher de César

Ao ler este post, lembrei-me do texto de La Defensora del Lector do jornal «EL PAÍS» que, a propósito de "El 'caso Echevarría'", afirma isto: «La credibilidad es dificil de alcanzar, pero se pierde con facilidad. Y ya se sabe que la mujer del César no sólo tiene que ser honrada, sino también parecerlo» [19/12/04]. Uma nova versão mas uma versão correcta, que Teresa Caeiro não sabe.

Xenofobia ou etnocentrismo

Ontem, na Sic, enquanto Rodrigo Guedes de Carvalho lia a notícia, o título de rodapé dizia: «Portugueses maltratados em Espanha». O que o leitor subentende? O contrário daquilo que a notícia, realmente, expressava: um empreiteiro português (Medeiros & Medeiros, aqui escarrapachado para ter vergonha na cara) mantém trabalhadores portugueses, em condições miseráveis em Castro Marim e não lhes paga os salários há quatro meses, devidos pelo trabalho que efectuam num empreendimento habitacional em Ayamonte, Espanha. Conclusão: maltratados em Portugal por portugueses! O que é que Espanha tem a ver com isto? Os jornalistas deveriam ter mais cuidado com esta tendência para a xenofobia. Ou é o etnocentrismo a funcionar?

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Um contrasenso brazuca

Que raio, um blogue com o mesmo nome, do outro lado do Atlântico?!

O veneno como arma política

Toda a gente fala do golpe político que constituiu o envenenamento do líder ucraniano Yuschenko. Muita gente já esqueceu a mesma suspeita a propósito do líder palestino Yasser Arafat. Não mais do que motivos ideológicos estão por detrás desta ambiguidade de visões. Hoje, uma investigação do «El País» refere: «El veneno también es un arma del nuevo siglo (...). Dos sucesos recientes lo ponen de manifiesto. Por un lado, las sospechas todavía vigentes sobre la muerte del líder palestino Yasir Arafat. Por el otro, las evidencias del trato dispensado al líder opositor ucranio Víktor Yúshenko...». Um pequeno ensaio sobre as técnicas, apuradas, da morte por envenenamento, ao longo da história.

domingo, dezembro 19, 2004

Antígona

«Que muralha é essa, que não é capaz de impedir o mal que dentro de si se engendra?» pergunta Corifeu a Creonte, depois deste afirmar que a lei é a muralha contra os inimigos que não a respeitam. Da peça de Sófocles, “Antígona”.

Os papões dos livros

«Portugal inteiro deixou de olhar o escuro. Deixou que o medo ridículo de papões se sobrepusesse à curiosidade de os ver, deixou que o sono viesse rápido, rápido demais, antes de ter tempo de sentir inquietude. Porque Portugal inteiro não quer sentir inquietude nem curiosidade. Portugal, rezam os estudos, opina que nada mais tem a aprender. Está bem assim, obrigado». Rui Ângelo Araújo, a propósito do desaparecimento da revista “Os Meus Livros”, no último número da revista “Periférica”.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Tango

Em “Tango”, Corto Maltese vive, angelical e educado, entre a Buenos Aires de pistola na mão - incólume a tiros e mortes - e a estação de Borges, sonhando acordado com as duas luas de Junho.

Um tráfego de "machos"

PROTESTO. «Não vi nenhuma feminista protestar. Protestam contra letra de música, palavra de dicionários, clubes e colégios exclusivos pra homens, exigem mesmo, e conseguem, o direito de entrar em banheiro de atletas (eta-ferro). Mas até hoje não vi o menor protesto contra o boneco que sinaliza o Pare ou Avance, Wait ou Walk, do tráfego. Em toda parte do mundo a permissão ou a interdição de tráfego pedestre são indicadas sempre por um bonequinh0 – um macho. PRONTO, PRA QUE QUEU FUI FALAR?». O velho Millôr Fernandes, na última revista “Veja”.

Os sonhos dos blogues

A bloguice toma conta de nós, de tal maneira que vimos tudo à volta com cara de post. Sonhamos e acordamos com posts escritos na cabeça. O pior é quando não temos tempo para sonhar...Bom regresso!

Titis da literatura

«Oh, como são sérias essas Titis da literatura. Note que de fato preferem autores da Europa Central, e que a literatura anglo-saxã lhes mete um nojinho qualquer – é muito simples, muito macha, tem demasiado humor. É claro que Kafka tem humor (não sejam tão rudes a ponto de me informar isso assim na minha cara), mas não é exatamente isso que eles procuram em Kafka. No fundo gostam mesmo da Europa Central porque todos os romances de lá têm uns campinhos de concentração no meio, e estão cheios de uns exemplos de sofrimento sublime». Alexandre Soares Silva na sua coluna da revista "Semana 3".

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Setembrino

Um dos poucos prazeres do caderno “Actual” do «Expresso» é a crónica de Luís Fernando Veríssimo, “Do lado de lá”. Do Brasil, entenda-se. Na linha de um humor corrosivo, mas certeiro, às vezes brejeiro, mas sempre educado, dá gosto ler as pequenas histórias do autor. Há semanas atrás, três pequenos contos fizeram o deleite de quem os leu. O último, um microconto intitulado “Monograma”, reza assim:
«Quando Setembrino chegou em casa, encontrou um homem vestindo o seu robe de chambre com o “S” bordado e abraçado à sua mulher no sofá da sala.
- Setembrino!- gritou a mulher, pulando do sofá.
- Setembrino... – disse o homem, alisando o monograma. – Esse eu nunca ia adivinhar. Pensei em Sérgio, Saul, Salviano...».
De estalo, não? Se gosta de contos, micro também, leia esta revista online, do lado de lá, mas também com gente de cá!

Mainardi

Corri, hoje, seca e meca para comprar a «Veja» e ler a coluna de Diogo Mainardi. Resultado: «Tem gente que me acusa de falar mal o tempo todo e de não propor soluções para melhorar o país. Acaba de ficar provado que eu sou melhor quando não proponho soluções». Como não está disponível online, deixo aqui a entrevista de Mainardi à «Semana 3».

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Jornalismo, política e independências

O debate sobre a deontologia dos jornalistas não está a cair bem no estômago de alguns. Se é verdade que um jornalista não tem interditos nos seus direitos políticos, misturar ambas as coisas interdita-lhe a independência. E essa não deve ser esquecida por nada deste mundo. Senão estaremos entregues à bicharada.

O poder por um prato de sondagens

«Se acreditássemos em sondagens já tínhamos mudado de vida». Estas foram algumas das palavras de paulo portas proferidas na conferência de imprensa em que psd e pp declararam, cada um a seu tempo, ir concorrer separados às eleições legislativas do próximo dia 20 de fevereiro. Esta frase merece ser explorada, por aquilo que ela tem de razão implícita que explica estas mais que explícitas palavras. Ambos os partidos passaram a semana, primeiro separados e depois juntos, a fazer contas e facilmente chegaram a várias conclusões: i) separados podem obter mais votos, porque muita gente do psd [inclusive militantes e dirigentes] não toleram esta aliança com o pp; ii) esse efeito, retiraria muitos votos do centro político-eleitoral; iii) assim, podem bipolarizar uma área política de direita, contra uma esquerda que teima em não convergir [veja-se a pressa do ps em descartar um acordo pré-eleitoral com o bloco e a correr com o pc para margens radicais; iv) ao assinarem um acordo pós-eleitoral mostram que querem continuar a pretender o poder a todo o custo, mesmo à custa da tramóia dos eleitores; v) afinal a principal preocupação dos partidos da maioria de direita foi mesmo as sondagens. Que conclusões podemos tirar? A primeira é a de que eles acreditam mesmo em sondagens e dão-nas por adquiridas e decisivas. A segunda é que acreditando em sondagens, mentem, ao não mudarem de vida. Ainda, lembro que o sorrisinho malandro de santana, no momento em que portas expressava a frase citada acima, mostrava que se estava a recordar que ambos, ele primeiro e depois portas, dirigiram o centro de sondagens da "amostra", empresa da universidade moderna que tanto brado deu. O futuro augura-se sorridente para este acordo, a avaliar pelas sondagens!

Quem acredita em sondagens muda de vida

Depois das palavras de santana lopes e paulo portas, há momentos, só posso usar outras palavras, as de Hugo Pratt na boca de Corto Maltese, em “Tango”: «...afinal quem sou eu para julgar os outros? Tenho apenas uma antipatia inata pelos censores e pelos puritanos, embora sejam os redentores que mais me incomodam».

terça-feira, dezembro 14, 2004

Canas de Senhorim e Quarteira

Canas de Senhorim volta a manifestar-se contra a saída de urânio da sua terra, lutando pela aprovação do seu concelho. O que aconteceria se, pelos mesmos motivos, os quarteirenses impedissem o peixe de ser vendido em Loulé, ou os louletanos de se banharem nas suas águas?

Os colunistas independentes

Pedro Mexia, na sua coluna: «Um colunista independente tem, como toda a gente, as suas convicções. Não precisa de se proclamar um abstencionista para que o respeitem. Mas não é fantoche de nada nem de ninguém». Vale a pena lê-la online ou mais logo em papel de jornal, até porque conta com uma ilustração magnífica do José Carlos Fernandes.

Peixinhos da horta

O Ma-Schamba visitou-me, mesmo no dia do seu aniversário, para jantar umas lulas recheadas. Parabéns, por este ano na blogosfera em língua portuguesa. Continuarei a ler esta escrita quase cifrada, mas no âmago da pele, iniciática mas quente, do JPT.

Eram lulas "recheadas"

A minha mãe fazia, como ninguém, lulas cheias, era assim que se apelidavam em Portimão. Cheias dos restos dos tentáculos, arroz grossinho e bocadinhos de chouriço, bem calcadas até ao limite da lula, que um pequeno palito cosia, para depois cozer em lume brando, num saboroso refogado de tomate apaparicado de cravo de cabecinha. As do Café Correia, em Vila do Bispo, não desmerecem. Mas o que me veio à boca, mesmo, ao ler o post de JPT, foi o arroz de peixe, que o Correia traz à mesa. O melhor é não dizer mais nada.

sábado, dezembro 11, 2004

A ética da investigação

Anda uma pessoa a ensinar aos alunos que qualquer trabalho de investigação, de cariz académico, deve respeitar as suas fontes, de forma ética, e depois dá com isto: um tribunal condena um jornalista de investigação a 11 meses de prisão por se recusar a revelar uma das suas fontes. Ler mais aqui!

Uma desgraça

nunca vem só, diz o povo. Ou ainda, desgraça atrai desgraça. Estes axiomas poderiam aplicar-se a santana lopes, primeiro ministro não-eleito, por ora demitido e agora objecto de investigação enquanto ex-presidente da câmara da Figueira da Foz, por suspeitas de procedimentos administrativos ilegais.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Moita carrasco

Um tal de rodrigo moita de deus goza com o nome do responsável da comissão de trabalhadores da Bombardier, a propósito das suas declarações sobre a propalada negociação com vista ao fabrico de viaturas militares nas antigas instalações da empresa. O seu nome é antónio tremoço o que permite a rmd intitular, de forma arrogante e sobranceira, o seu post de “Por um prato de tremoços”. Acho que vale a pena retorquir-lhe e dizer: bajula o ministro da defesa e as suas aldrabices populistas e depois como todo o vaidoso, Moita carrasco!.

O blogue da Bombardier

Acidentalmente acabo de descobrir o blogue da Bombardier. Ou será o do PP? Não, talvez seja o do gabinete do ministro da defesa!

A "vendetta"

É impressão minha ou os blogues laranja andam todos de beicinho caído e vendetta na ponta da pena?

quinta-feira, dezembro 09, 2004

A birra

O presidente resolve dissolver o parlamento e com ele o governo que, por eleições, dali saiu sustentado. O líder parlamentar do psd vem à tribuna da assembleia e lesto e lampeiro propõe alterações legislativas que impeçam no futuro o presidente de usar estes poderes: o de dissolver o parlamento. Tal como santana brinca com o governo, guilherme brinca com o parlamento e acha-se ainda jovem para uma birrinha de moço pequeno.

Um pardal cheio de intenção

Sidónio Pardal, arquitecto, coordenou um estudo sobre as reservas, agrícola e ecológica nacionais, e achou que o estado tem permitido um uso incorrecto do uso do solo. Propõe no mesmo estudo a sua gestão pelas autarquias. Sabendo-se a gulodice dos autarcas pelos solos de tipo A e B, normalmente os pertencentes à ran e à ren, imagina-se facilmente a depradação desses solos com vista à instalação de campos de golfe, pedreiras, urbanizações de luxo e condomínios privados. O ministro do ambiente não aprovou o estudo, escandaloso como era, e propõe o que já acontecia [mesmo assim ainda mal]: que sejam os planos directores municipais da responsabilidade das autarquias e de organismos do planeamento, a definir o uso dos solos. Do mal o menos.

sábado, dezembro 04, 2004

AS MULHERES NO SISTEMA POLÍTICO

O processo de constituição das listas para as eleições é, habitualmente, uma representação plena de qual o papel feminino na vida social e política. Os arranjos das últimas listas para as eleições de 20 de Fevereiro mostraram, mais uma vez, a hegemonia masculina dos partidos políticos e em especial dos seus aparelhos nacionais e regionais. A conversa veio à baila com a lista do PS em Coimbra e sobretudo com a decisão de colocar Matilde Sousa Franco (MSF) no primeiro lugar da lista. Muita coisa se escreveu sobre o assunto. Destaco apenas uma opinião:
«Parece-me uma péssima escolha. Não retirando os méritos da Sr.ª, que são muitos, continuando a considerá-la, como considero, uma mulher de fibra e de elevado sentido de estado, não posso deixar de achar que a sua candidatura, para mais como cabeça de lista (aceitaria com mais facilidade um local elegível mas de menor visibilidade), soa demais a uma vontade bacoca de "surfar" a onda de popularidade que ela, pelo braço do falecido Prof. Sousa Franco, seu marido, foi angariando. Ora eu sou contra explorar vivos e muito mais contra explorar mortos que mereciam outro respeito. É o caso».
As razões aduzidas no texto podem ter sido os pressupostos para o PS escolher MSF para o lugar referido, mas isso só penaliza a visão do PS. Aliás, só neste sentido se entende que Helena Roseta, bastonária da Ordem dos Arquitectos tenha sido preterida e Sónia Fertuzinhos, presidente das Mulheres Socialistas, tenha sido relegada para 12º lugar em Braga. Terá sido por esta militante ser a cara socialista da luta pela descriminalização do aborto? Parece que sim, porque o PS de Sócrates impôs, em sua troca - mas no 3º lugar e assim potencialmente elegível -, uma tal de Teresa Venda do Movimento Humanismo e Democracia, nem mais, uma militante defensora das penalizações a mulheres que abortaram. Também no Algarve o PS, bem como o PSD, não deixam as mulheres acima das fronteiras do elegível. Bem diferente do nosso país vizinho em que o governo de Zapatero conta com oito ministras, o mesmo número de homens da equipa, num país assumido como “a nação do machismo e a reserva católica do Ocidente” como refere Lola Galán. Mas aqui ao lado é outra loiça, até porque as medidas paradigmáticas do PSOE no governo, foram a proposta de legalização dos casamentos homossexuais e o combate à violência de género. Esta matéria, aliás, foi motivo para a criação de uma disciplina obrigatória no secundárioo dedicada à igualdade entre os sexos. Em Portugal, como se sabe, a educação sexual nas escolas é letra morta há muito tempo nas práticas dos últimos governos. Na verdade, as matrizes operárias e trabalhistas do PSOE têm permitido a assunção de medidas verdadeiramente inovadoras na governação moderna, enquanto que em Portugal apenas se espera a permanência do status quo, num PS ainda marcado pela sua formação tecnocrática, sem raízes populares.
Mas as razões do texto citado acima (e que expressam o ponto de vista do autor) não deixam de ser puramente machistas. Considerar que uma mulher cavalga a “onda de popularidade” do marido, significa duas coisas: uma, que o autor não conhece o percurso de Matilde Sousa Franco; duas, que ele considera que nos papéis sociais de género, quem constrói a onda é sempre o homem, não percebendo o papel de suporte colectivo que a mulher representa, uma rectaguarda decisiva para o percurso de qualquer homem, tal como no caso referido. Situação que o próprio Sousa Franco reconhecia. Como muito bem afirma Anna Farré «Os homens têm podido ocupar espaços de poder porque têm disposto do apoio de uma estrutura familiar de afecto, cuidado e estabilidade, que actua como um descanso do guerreiro, potenciadora e tranquilizante, que lhes permite dedicar toda a sua energia e entusiasmo à tarefa a que se aplicam».
Mas alguns dados em Portugal vêm trazendo novidades: somos o país europeu com mais mulheres na investigação científica e só somos utrapassados pela Itália em número de mulheres doutoradas na Europa. Estas dinâmicas poderão permitir um crescente papel das mulheres nas esferas profissional e social e empurrar para o sistema político uma dinâmica de escolha baseada na competência e afirmação de género. Nessa altura não será preciso propagandear as quotas de mulheres nas listas, mantendo a hegemonia masculina nos lugares de poder e usando o feminino apenas para compôr o ramalhete, como muito bem salienta Elisabete Rodrigues no jornal «barlavento».

Pai, estou no governo!

A lógica da política agora é esta: o que interessa é governar em alternância, dar a oportunidade a todos, mesmo que para isso se incendeie quem lidera os partidos, ou quem chefia os governos. Essa foi a lógica do PS. Esta é agora a lógica do PSD. Deixar Santana governar, queimá-lo no governo e agora ainda permitir que lance o partido na derrocada final. Depois, é só esperar pelos sebastianistas do quinto império, ou pelos reorganizadores da pátria. Pergunta-se: onde está o espírito nacional? Que interessa isso quando o que interessa são os fugazes momentos de fama em que avisamos os familiares que somos membros do governo. Uma vergonha para os criadores da democracia e para quem ainda acredita nela.

Ora digam lá!

Agora que o governo está a cair, o que vai ser do movimento contra as portagens na via do infante? Prepara-se para lutar pela imposição de portagens durante a vigência do próximo governo? Depois explico!

quarta-feira, dezembro 01, 2004

À espera que caia

Diálogo ouvido à beira do cais, em dia de tempestade:
«O que fazes aí a olhar?»
«Ora, tou à espera que o governo caia»

A Pior Banda do Mundo - volume iv

José Carlos Fernandes é pouco conhecido em Loulé. Também que interessa isso? É mais conhecido em Lisboa! JCF é pouco lido no Algarve. Também que importa isso? É muito lido em Barcelona e em S. Paulo. Se as raízes nos aguentam os pés, de pouco nos servem para quando precisamos de vaguear a alma por esse mundo, um desafio imenso, mesmo que seja um mundo de desenhos. Mas JCF não é, redutoramente, apenas um autor de banda desenhada. Ou melhor, para além de um excelente desenhador, esconde no meio dos desenhos os balões que nos trazem a música, a literatura, a filosofia. E também isso permite que ele seja um dos autores mais premiados em Portugal. E que recentemente tenha ganho mais um prémio, que não vi relatado em lado nenhum. Por estas terras do Algarve, entenda-se! No último Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora voltou a vencer o prémio de “Melhor argumento para álbum português”, com a sua obra «A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto» da série, já premiada, «A Pior Banda do Mundo». Uma obra de futuro que, tenho a certeza, nunca honrará o seu título. Algo que espero, todos esperamos, de José Carlos Fernandes. Parabéns amigo!
(texto completo publicado, hoje, na crónica "Contrasenso", em «A Voz de Loulé»)

Um populista a cair

Há tempos comentava a acepção de “populista” aplicada a Santana Lopes, a propósito de um post de FV, que pretendia defender um conceito que hoje como se sabe tem uma conotação pejorativa. Ora, hoje, aí está uma boa prova disso. Nem sempre o populismo resulta. Ele precisa de um alfobre de condicionalismos vários para fermentar, que no caso presente não existiram e Santana caiu. Apesar de em anterior post revelar a minha incredulidade, a verdade é que parece que Sampaio dissolve o parlamento, não se sabe ainda é para quê o governo. Voltando à questão inicial, gostei de ler o FV que reconhece - com uma mestria e uma dignidade de relevar - o seu desencanto sobre este futuro-ex-primeiro-ministro-não-eleito. A registar, com agrado.