sábado, outubro 30, 2004

A Guerra dos Mundos

Lembrar que hoje, há exactamente 66 anos, um jovem de 21 anos punha um país de joelhos sob uma fictícia ameaça marciana. Depois disso a rádio nunca mais foi a mesma e todos nós ganhámos o actor e realizador que nos deu uma das obras primas do cinema, “Citizen Kane”, uma metáfora sobre os dias de hoje: Orson Welles.

Uma questão de vómito genético

Dante descobre, agora, que nada contribui para Bush filho o facto de Bush pai ter vomitado no colo do primeiro-ministro japonês.

sexta-feira, outubro 29, 2004

A indigna “dignidade” do Benfica

Ontem, em assembleia geral, o Benfica aprovou um inquérito à gestão ruinosa e corrupta de Vale e Azevedo no clube, com vista à sua expulsão. Hoje, na assembleia geral da SAD [do Benfica], a sociedade prepara-se para aprovar a reserva do lugar de presidente para o empresário José Veiga, quando este resolver a dívida ao fisco de 2 milhões de euros e ao banco luxemburguês de um milhão e meio da mesma moeda. E não há quem possa exterminá-los?

quinta-feira, outubro 28, 2004

O "laissez faire" da Alta Autoridade

Que tipo de autoridade é a da Alta Autoridade para a Comunicação Social? Os homens lá estão, escutando os inquiridos, fazendo uma perguntinha vulgar de quando em quando, confundindo audição de opiniões com inquéritos, como bem nota o “Abrupto”. No caso Marcelo, era triste ver o presumível inquirido fazendo um discurso como se estivesse nas suas sete quintas ou na missa dominical da Tvi, enquanto a AACS ouvia deslumbrada e com um sorrisinho condescendente de Artur Portela. Daí que - e justamente por isso - decisivo é que MRS seja ouvido no Parlamento e não na AACS, que é exactamente o que a maioria não quer e que muita gente ainda não entendeu ao exultar com as declarações de ontem.

quarta-feira, outubro 27, 2004

...Um pouco mais de azul...

Acordo com água a caír sobre a cama, motivo da inundação do andar de cima, resultado da pequena tempestade que tardiamente chega ao sul. Bombeiros que chegam com bomba de água que não funciona, piquete da Câmara de Loulé só disponível muitas horas depois das 7 da manhã e só depois do problema resolvido por mãos próprias. Contento-me com as notícias mais tempestuosas do dia: o adiamento da votação da comissão europeia, impregnada de comissários incompetentes ou interessados na economia privada, e radicalmente marcada pelo homófobo Buttiglione à cabeça. Ainda bem que o parlamento (órgão eleito pelos cidadãos europeus, ao contrário da comissão que é designada pelo conjunto dos estados) considerou o chumbo desta equipa, baseado na ideia de uma clara e inequívoca defesa dos direitos humanos, de todos os direitos. Ali perto, a retirada dos colonatos da faixa de Gaza retira algumas nuvens negras do horizonte no médio oriente. Para que o globo comece a ficar com a sua cor de referência só falta que, na próxima terça feira, o povo americano escolha John Kerry. Só assim este outono aproximar-se-ia mais da primavera do que do inverno. Hoje vestimo-nos de azul!

Um balanço da página [a cultura], de «A Voz de Loulé»

No passado dia 15 de Outubro o quinzenário «A Voz de Loulé» publicava o último número de [a cultura]. Nada que não tivéssemos previsto, quando iniciámos a publicação em «A Voz de Loulé» de uma página de cultura [em termos latos, pois a nossa intenção era apenas abordar um conjunto de temas de manifesto interesse cultural, com um sentido de competência científica], aberta a colaborações diversas. Se um dos objectivos era abalar o panorama da presença da cultura nas páginas dos jornais regionais [normalmente voltadas para uma vertente cultural mais mediático-populista], outro seria, sem dúvida, lançar pontes e raízes para projectos mais alicerçados dos pontos de vista cultural e organizacional. Por isso se referia, no “editorial” desse número, que terminava aqui uma primeira fase. E terminou nesse dia, dia 15 de Outubro, altura em que há exactamente 48 anos surgia em «A Voz de Loulé» uma página cultural intitulada “Prisma de Cristal”, organizada pelo poeta Casimiro de Brito. Essa a razão do tema desse número.
Agora, é tempo de balanço, de olhar para trás, reler os nossos/vossos textos, deliciarmo-nos com as imagens, falar com os amigos e com os leitores. O tempo de paragem servirá, também, para dar à edição uma publicação com a selecção do que de mais interessante se foi publicando por aqui, sempre com competente lavra, sempre com empenho absolutamente gracioso. Por isso, agradeço a todos os que colaboraram nestas páginas desde 1 de Abril deste ano, vindos de muitos pontos do país, alguns amigos, outros que entraram nessa roda de similitudes afectivas.
Por ora, podemos, em jeito de quem abre uma prenda para guardar para sempre, percorrermos os carreiros da nossa conhecida e tão crítica formiga, atentarmos nas sentenças proveitosas e exemplares do nosso amigo Luís Ene, conhecermos as escolhas do coração de António Baeta, a propósito do coração de outra barca, a de Casimiro de Brito. E, sobretudo, ficarmos a conhecer a nossa enorme dívida a este grande poeta e homem de cultura, nascido em Loulé, Casimiro Cavaco Correia de Brito, que o amigo José Batista [Jobat] desenha, como seu amigo.
Uma palavra de apreço àqueles que, comigo, deram as mãos na roda inicial: Amália Cabrita, José Batista e Luís Ene. Um obrigado ao José Maria, director de «A Voz de Loulé» e à sua pequena mas grande equipa.

Nota: pode ler alguns textos deste nº de 15 de Outubro nos posts abaixo identificados com [a cultura] e conhecer o histórico da página cultural clicando em “acultura”.

terça-feira, outubro 26, 2004

150 linces ibéricos para um "Algarve United"

Na revista “Única”, do «Expresso» de 23 de Outubro passado, um texto de Telma Miguel dá notícia do aparecimento do Algarve United, uma equipa de futebol amadora que tem o lince ibérico como logotipo. A propósito deste felino afirma, de forma peremptória, que este é o que tem “maior risco de extinção em todo o mundo e do qual já só existem 150 exemplares”. O interessante é o espanto que temos ao ler esta notícia. Como sabe Telma Miguel que existem 150 indivíduos? O que nós sabemos é que não há estatísticas credíveis sobre este mamífero, dadas as condições agrestes em que vive, a desagregação dos seus habitats e o próprio comportamento do animal. No Algarve já há muito tempo que não se realizam avistamentos, o que põe em causa esta tão clara certeza, evocada num texto sobre futebol.

Nota: sobre o Algarve United falarei em próximo post.

[a cultura]: O Movimento “Prisma” em Loulé

O Prisma de Cristal
Em 16 de Outubro de 1956 surgia, no jornal local «A Voz de Loulé» nº 94, uma denominada “página cultural” intitulada “Prisma de Cristal”. Estava colocada na página 2, onde se manteve quase sempre e era organizada por Casimiro de Brito. Casimiro Cavaco Correia de Brito, tinha nascido em Loulé em 1938 e tinha na altura 18 anos. O “Prisma de Cristal” publicou-se durante 26 números, de 16 de Outubro de 1956 até 15 de Fevereiro de 1959, tendo a página, desde o nº 2, passado a chamar-se “página literária”. Percebe-se porquê. A grande maioria dos seus conteúdos seria composta de poesia, poemas de jovens e consagrados lado a lado, oriundos dos vários quadrantes poéticos do Algarve, do país, de Espanha, do Brasil, de África. Nas suas páginas publicaram cerca de 45 poetas, muitos deles traduzidos do espanhol e do inglês, por Casimiro de Brito. De entre os nomes hoje mais conhecidos poderemos referir, para além do organizador da página, Ramos Rosa, Vicente Campinas, Emiliano da Costa, Afonso Cautela, Fernando Midões, Eduardo Olímpio, Maria Rosa Colaço e António Cabral. Com o poeta Eduardo Olímpio, natural de Santiago do Cacém, Casimiro de Brito criou e divulgou os Cadernos de Poesia “Encontro”, vendidos pelo “Prisma” a 4 escudos cada. Na área da criação e divulgação poética o “Prisma de Cristal” dá conta das diversas iniciativas editoriais de Casimiro, designadamente do “Caderno Zero” (como redactor), do “Convívio” (como director) e dos mais célebres “Cadernos do Meio-Dia”, dirigidos por António Ramos Rosa, na altura em que Casimiro de Brito já habitava na Rua do Bocage em Faro. Nos anos 60, Casimiro de Brito viria a dirigir, em Faro, a importante colecção de poesia organizada em “A Palavra”.
Pode ler o texto integral, publicado em «A Voz de Loulé» de 15 de Outubro, em "acultura"

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

Irrita-me muito do que se tem escrito sobre os acontecimentos da Academia de Coimbra. E irrita-me porque leio críticas ao comportamento dos estudantes que levaram cacetada da polícia. E irrita-me, porque alguns dos que escrevem viveram as crises da academia de 62 e de 69 e na altura tudo valia. Bem que hoje não há gorilas e a democracia permite este tipo de protesto estudantil. Agora o que mudou foram as caras de quem detém o poder. E são os que protestaram em 62 e 69 que lá estão na crítica aos estudantes e na confirmação da carga policial. O poder corrói. E irrita.

domingo, outubro 24, 2004

Jaquinzinho, ou charrinho?

Brincalhão, o Paulo Querido tem destas coisas. A propósito dos “jaquinzinhos” constituirem, ou não, uma degustação dicotómica entre esquerda e direita, vai dizendo:
É tudo uma questão de classes (sim, sei que não está na moda, mas que as há, há). E contra isto batatas. Logo, Filipe, jaquinzinhos é um prato de esquerdistas e está interdito (horror! porcaria! argh!) nas mesas direitistas. O jcd usou a palavra para intitular o seu blogue primeiro porque é algarvio e segundo porque é uma forma de gozar com a esquerda.
Na verdade, o termo "jaquinzinhos" é um termo aristocrático, da língua dita culta, para designar a espécie comestível das costas do Algarve e do sul atlântico, que se designa carapau. "Jaquinzinho" pretendeu designar um espécime piscícola, degustado de várias formas, que vernacularmente sempre se designou de carapau ou [melhor ainda] de charrinho. Portanto, o termo jaquinzinho é um termo da burguesia e o termo charrinho é um termo popular. O seu uso nas mesas das refeições blogosféricas, pode ser o prolongamento dessas diferenças de que falo.

O medo das utopias

Francisco José Viegas, preocupado com as utopias, quer as do século XVI quer as da actualidade, aconselha a ler Montaigne e Rabelais. Talvez fosse bom fazer novas leituras de More e Campanella. Mais simples ainda seria ler o que pensam Maciel Santos e José Ferreira Borges, que escreveram sobre o assunto antes da moda actual.

sábado, outubro 23, 2004

Quem conhece Maria Rosa Colaço?

No dia da morte de Maria Rosa Colaço (MRC) alguns jornais – poucos – publicaram umas notas sobre a escritora, arranjadas à pressa em meia dúzia de fontes cibernéticas ou nas badanas dos seus livros. De perfil discreto, pouco dada a high profiles, pouco se conhecia da autora. Daí, tantos enganos nos textos escritos. Um deles, repetido pelo fenómeno do copy-paste, que aqui se corrige: na verdade MRC lecciona primeiro em Cacilhas/Almada e só depois em África/Moçambique. Na biblioteca de Loulé, um texto que pretende homenagear a autora – escolhida como autora da semana que corre – copia o mesmo erro. É pena.
Já agora, outro dado: MRC não escreveu só em «A Capital». Para nós interessa-nos muito mais que ela tenha escrito os seus primeiros textos no jornal local, «A Voz de Loulé», nos finais dos anos 50. E isto é que devia ser dito, porque à história pertence!

Os jovens que se riem das quedas dos velhos...

As televisões passaram, ad eternum, as imagens de Fidel Castro a caír e logo toda a gente se apressou a mostrar as mesmas imagens esperando, com isso, a queda do regime que ele sustenta. Se alguém ri com isto é o próprio Fidel que, logo após a dita, se pronunciou exactamente sobre a globalização do acto. Melhor, será ainda ler o que diz Pacheco Pereira sobre a queda: apenas a queda de um qualquer velho, como todos seremos um dia.

sexta-feira, outubro 22, 2004

[a cultura]: A Casimiro de Brito

Solicita-me o coordenador desta página ["a cultura" - página cultural do jornal «A Voz de Loulé»] que comente um excerto de «Na Barca do Coração», de Casimiro de Brito, no dia em que o poeta lançou o primeiro número de "Prisma de Cristal", neste mesmo jornal, em 16 de Outubro de 1956.
Tornei-me, inadvertidamente, um divulgador deste diário do poeta ao comentar, no meu “blog”, pequenos trechos que reflectiam os meus cuidados, as minhas emoções, as minhas dúvidas, o meu sentir, como se partes de mim, ou do poeta, andassem soltas em demanda de um lugar de encontro e identificação onde se encaixar, para, de novo, tornar a dividir-se procurando outro alguém.
Curiosamente, a 16 de Outubro de 2000, bem como na sua véspera e no dia seguinte, Casimiro de Brito parece reflectir sobre o que chama “os restos da unidade” e refere-se, expressamente, à relação entre o autor e o leitor.

15.OUT.2000:
“(…) Acordo e vou saltar para dentro das águas do meu mar, em busca dos restos da unidade que todos os dias vou perdendo e reencontrando. (…)”
16.OUT.2000:
“Quem tem uma coisa, procura outra. Quem julga ter uma pessoa, também. Não devia ser assim. O possível futuro? O momento depois? Não devia ser assim.”
17.OUT.2000:
“Escrever bem não me interessa, escrever bonito muito menos. A sensação que desejo transmitir é a mesma que me deixa o amor quando o faço – não fica feito. Um acto não se pode conservar, nem uma mulher. Que também não se conservem os textos que escrevo, que me escapam dos dedos, que se escapem do leitor – deixando-o a sós com a sua vida. A eficácia, na escrita, é uma ilusão e o poema apenas um começo. Para o autor e para o leitor, diferentemente para cada leitor.(…)”

Termino, não sem que antes diga, aos mais cépticos das “coisas” da poesia, que Casimiro também se debruça sobre outras questões “menos poéticas”, mais urgentes.
Sobre a realidade de um dia-a-dia que insiste em prolongar-se:

18.OUT.2000:
“A maior parte dos mortos e feridos na Intifada são crianças ou adolescentes. Quem os fere, quem os mata? Quem os coloca na frente do combate ou quem atira a matar? Vão mais depressa para junto de Alah, dizem. São abatidos duas vezes. (…)”

Silves, 4 de Outubro de 2004
(publicado em «A Voz de Loulé» de 15 de Outubro: página 16)

terça-feira, outubro 19, 2004

a Maria Rosa Colaço II

O Google tem destas coisas.
Procurando Maria Rosa Colaço
cheguei aqui.
E logo me surpreendi.

a Maria Rosa Colaço

A notícia apanhou-me de surpresa. Acabei agora de ler um email de um leitor que avisava da criação de um blogue. A informação sucedia a um comentário que este leitor deixara num post antigo [de maio passado] sobre um dos livros que marcaram a minha vida. Segui o link do nóvel blogue, pois nestas coisas não há que esperar para ver. Foi assim que fiquei a saber da morte da Maria Rosa Colaço (MRC), uma pedagoga, professora e escritora que marcou gerações de alunos. É o caso deste nosso amigo leitor [António Matos Rodrigues] que, triste com a morte da sua antiga professora primária e mais triste ainda pelo cerco de silêncio que se fez à volta dela, decidiu criar um blogue em sua homenagem, com o seu nome, abrindo-o a quem queira testemunhar as suas vivências. Pela minha parte enviei o meu contributo: um texto que, em Maio passado, publicara na página [a cultura] de «A Voz de Loulé» e disponibilizado também no seu sítio virtual.
Por agora resta-me lembrar que MRC deixou belos rastos da sua escrita na página literária de «A Voz de Loulé», nos finais de 50 e que a Biblioteca Municipal de Loulé a escolheu como autora da semana, expondo alguns dos seus livros.

"Vamos lá cambada, todos à molhada qu'isto é futebol total!"

Durante o período do Euro 2004 escrevi vários textos sobre a problemática do futebol, designadamente questionando os sentidos de identidade dogmática e de afirmação nacionalista que se promovia com o evento. Na altura, muitos teóricos embevecidos pela bola, mais emotivos que racionais [portanto mais primários na análise] acharam que andar de bandeira desfraldada é que era bom e que o “patriotismo” não teria qualquer problema. Hoje as consequências desta posição estão aí bem visíveis: um carnaval hediondo, de acusações e ofensas, mesquinhices e violência verbal, arregimentação de claques e incompetências governativas. Tudo se mistura fazendo do quotidiano das televisões uma aldeia global de roupa suja que nos entra a toda a hora portas adentro. Algo que o futebol não mereceria. Ou talvez este futebol mereça esta cambada que o dirige, nos clubes e no governo.

[a cultura]: A formiga no carreiro...

(escríticas renascentistas)

[22] A formiga de Dâmocles. Oiço na TV referências ao eventual julgamento do caso que opõe a ex-ministra da justiça, Celeste Cardona, ao fiscalista Saldanha Sanches, que a acusou de fazer apenas o jogo do CDS no governo. Numa altura em que se comenta o escândalo da entrada da ex-ministra na Administração da Caixa Geral de Depósitos, esta notícia cai como uma espada de Dâmocles sobre os ombros da nova administradora. E só dá razão às antigas declarações de Saldanha Sanches.

[23] A formiga mais papista que o papa. Notícia da manhã: o Papa, depois de uma grande letargia, descobriu, agora, que o Dalai Lama e o líder religioso indiano tinham celebrado rituais religiosos no santuário de Fátima. Amedrontado com a diversidade religiosa, e com a livre escolha de novos e velhos crentes, despacha no sentido da destituição do Bispo de Leiria e do responsável do santuário. Por aqui se vê o imperialismo do Catolicismo e a discriminação de outros credos religiosos.

[24] A formiga cabulona. Quem ouviu a palestra do ministro do turismo, Telmo Correia, na altura da inauguração da secretaria de estado do turismo em Faro, aprendeu uma verdadeira lição. Diz o ministro, perante uma plateia de alunos a bocejar, a propósito da matéria que domina, como ninguém: “Bom, se fizerem uma chaveta e colocarem lá estes tópicos, se ficarem com esta cábula, tenho a certeza que não terão, no futuro, problemas com qualquer exame”. Esta é a verdadeira pedagogia da direita: Chaveta? Tópico? Cábula? O ministro mostra estar cristalizado, não só no turismo mas também na educação. Para a direita, este governo é uma verdadeira brincadeira aos governantes.

[25] A formiga reformadora. Bagão Félix tem muita falta de vergonha na cara. Para abrir caminho ao ex-secretário de estado Vitor Martins, para a presidência da CGD, nada mais fácil: reforma o ex –ministro Mira Amaral, com a mísera quantia de 3.600 contos mensais e numa celeridade nunca vista. Ao mesmo tempo, com o desplante que se lhe conhece, afirma que quer gerir as finanças do estado, como se fosse de uma família. Da sua, concerteza.

[Zenão de Flandres] (pseudónimo retirado do personagem principal do romance «A Obra ao Negro» de Marguerite Yourcenar).
(publicado em «A Voz de Loulé» de 15 de Outubro)

domingo, outubro 17, 2004

A similitude, ou todos a pensar o mesmo

Não sendo possível deixar um comentário, não resisto a deixar-vos aqui esta interessante similitude. Ontem, jcb editava o seguinte comentário:
Quantos são?

Há coisas que são do futebol e há coisas que são dos tribunais. E estas notícias só por muito adormecimento são inseridas na secção de Desporto.
Hoje, Luís Afonso, no Bartoon do «Público», publicava uma banda desenhada com um texto muito semelhante. Conclusão: ou jcb deu a dica ao cartoonista, ou este anda a ler os blogs para se inspirar. Ou andamos todos a pensar o mesmo deste governo.

sexta-feira, outubro 15, 2004

Quem não põe lá os pés sou eu!

Ontem, o secretário de estado do desporto Hermínio Loureiro disse, na TV, que não ia ver o jogo Benfica-Porto por razões de segurança, atribuindo responsabilidades à liga de futebol. Hoje, deve ter acordado a pensar que na verdade era governante, responsável pela área do desporto e membro de um governo que bate na tecla da segurança há muito tempo. Resultado: a realização do jogo já está posta em causa. Alguém lhe puxou as orelhas ou ele não sabe governar?

[a cultura]: PEQUENAS HISTÓRIAS DE PROVEITO E DE EXEMPLO

As histórias têm fim mas não terminam

Era uma vez um livro que vivia num confortável bolso do casaco dum leitor, e onde um ia o outro ia também. A leitura durante as longas viagens de autocarro ou nos breves momentos passados nos cafés era-lhes já rotineira, mas às vezes também lhes aconteciam agradáveis surpresas: um banco de jardim ou uma esplanada à beira do rio. E assim o livro ia vivendo despreocupado, uma página depois da outra, limitando-se a ser quem era. [A moral desta história é aquela que o fino leitor sem dúvida já antecipou: um livro sem um leitor não é ninguém! E vice-versa.]

Um homem encontrou um livro estendido num banco de jardim e perguntou-lhe: Quem te perdeu? Ao que o livro respondeu: Ninguém me perdeu, na verdade fui aqui deixado para que alguém me encontrasse e me levasse consigo. Mas ainda o livro mal acabara de falar e já o homem abalava sozinho sem dizer sequer uma palavra. [A moral desta história é dupla: há livros que não falam ao coração dos homens; há homens que são surdos à voz dos livros]

Uma cadeira, igual a todas as cadeiras daquela sala, decidiu certo dia não deixar que a voltassem a usar. A partir daí, sempre que alguma pessoa tentava sentar-se nela, logo ela dobrava uma das suas quatro pernas ao acaso, derrubando sem apelo nem agravo a infeliz, tudo isto perante o espanto das outras cadeiras. Passado pouco tempo, foi substituída à força e mandada abater por insubordinação. As outras lamentaram então a sua má sorte, nunca mais se iam divertir tanto. [A moral desta fábula é: o público deve apreciar o artista em vida. Ou outra.]

[Luis Ene]
(histórias publicadas em «A Voz de Loulé» de 15 de Outubro)

A dicotomia Esquerda/direita

Pacheco Pereira (PP) escreve hoje no «Público» um texto sobre a dicotomia esquerda/direita. O artigo de PP é lúcido apenas do ponto de vista da análise histórica. Mesmo assim, apagar uma dicotomia complexa olhando para os últimos decénios é extremamente redutor. Redutor ainda, é o facto de o seu olhar sociológico (digamos assim) pensar as diferenças entre a esquerda e a direita exclusivamente no campo das ideias que são expressas nos media, incluindo claro está, a blogosfera (que PP muito preza e nós também). No entanto, não olhar para o mundo social e para tudo o que ele expressa real e simbolicamente de diferente entre a esquerda e a direita (no campo do trabalho, dos sindicatos, do movimento social, etc), leva PP a não entender um alfobre de antíteses que presumo se vão extremar nas próximas gerações. E se PP despreza essa análise também não percebe que essas diferenças se constroem muito na clarificação daquilo a que Vale de Almeida chama de "negociação". Pacheco Pereira constrói, assim, uma cápsula que o afastará deste mundo.

quinta-feira, outubro 14, 2004

As portagens na Via do Infante

Tenho andado a reflectir sobre o tema das portagens nas Scuts, para escrever sobre o assunto numa das próximas crónicas em «A Voz de Loulé». Entretanto vou lendo alguns posts na blogosfera, sobretudo a algarvia. Hoje dou com um texto de jcd no "jaquinzinhos" que mostra que ainda há quem não veja só a árvore, mas a floresta. E que perceba que o problema das portagens na via do infante não deve ser só encarado na perspectiva regionalista ou familista dos interesses do poder no Algarve. O argumento do turismo é para além disso submisso e oportunista. Eu direi o mesmo: se pago portagens em todas as minhas deslocações porque não pagarão aqueles que ao Algarve se deslocam?
Outra questão é ainda esta: discute-se o problema dos acessos viários e nunca o problema da redução do tráfego. Essa é a verdadeira visão do futuro (alguém sabe que há um projecto para uma ciclovia de VRSA a Sagres?). Pois então!


estádio do Algarve: um barco à deriva

Muitas vezes por semana passo junto ao "estádio de futebol do Algarve". Olho-o de longe e não vejo e nem sinto ninguém, como se fosse um mundo à parte. Penso que lá dentro alguém assinala num mapa as horas de utilização, de vida, daquele barco à deriva. As horas de rega, as rondas da polícia, os cm3 de água da chuva, o número das folhas que caem, os mirones que vão em romaria ao domingo santo. No outro mapa, o verdadeiro, os chefes assinalam os milhares que assistiram aos concertos, o número de miúdos que participaram nos torneios desportivos e os comparam com os milhões de euros que ali se enterraram para bem da pátria, da bandeira e da bola. Uma "vil tristeza", uma tristeza vil.

O social democrata que perdeu a juvenilidade

O ministro do ambiente, com o desconhecimento que se lhe conhece, e reconhece, sobre as matérias que tutela veio, com ar de maldição, ameaçar os algarvios dizendo que em 2005 vão ter água racionada. Razão? O facto de estar suspensa a construção da barragem de Odelouca, por motivo de uma queixa da Liga de Protecção da Natureza à Comissão Europeia. A propósito do tema a SicNotícias convidou o presidente da LPN e o presidente da junta metropolitana do Algarve, para debater o assunto. Contra os fundamentos da Liga, o Engenheiro Macário Correia acusou a organização não-governamental de ambiente de armar em adolescente e de ter posições de “juvenilidade”. Esquece várias coisas. Primeiro, que a LPN existe desde 1948; segundo, que nem sempre a velhice é sinónimo de maturidade ecológica; terceiro que, quando em jovem foi secretário de estado do ambiente, brandia cheio de raiva o dedo indicador contra o poluidor pagador. Razão tinha Willy Brandt quando dizia: «revolucionário aos 18, socialista aos 30 e social democrata aos 40»

quarta-feira, outubro 13, 2004

[a cultura]-página cultural de «A Voz de Loulé» - 1 Outubro: Minorias

Editorial:
Minorias, somos quase todos, uma grande maioria à espera da sua oportunidade, quero dizer, da sua igualdade, liberdade e fraternidade. Talvez como a segunda história de Luís Ene, em que a barata, lutando pela sua supremacia sobre os homens, “cresceu e tornou-se uma barata responsável que nunca se mete em confusões”. Muitas confusões, arma o “Homem-a-Dias”, num texto admiravelmente irónico sobre a instalação do secretário de estado do turismo, na cidade de Faro.
A página [a cultura] também se sente minoritária e disso se compraz, trazendo uma visão sobre temas ainda mais marginais, esquecidos no catálogo da nossa “cultura” oficial. Nesse sentido, convidou o antropólogo Miguel Vale de Almeida (MVA) para nos falar sobre a “Homoparentalidade”, segundo a perspectiva da antropologia, o que para nós é uma honra e enriquece o conjunto dos nossso temas e o conhecimento dos leitores e amigos. A ombrear com MVA, trouxemos um texto sobre “Ciganos”, escrito por uma aluna de um curso de educação da Universidade do Algarve: uma prática cultural, que é recorrente nas nossas comunidades. Para ilustrar a qualidade dos textos, nada melhor que a beleza do desenho de José Carlos Fernandes – a continuar connosco, o que agradecemos – desta vez com uma magnífica ilustração do sempre minoritário Corto Maltese, personagem do não menos minoritário Hugo Pratt.
Boas leituras e até ao próximo número “O Prisma de Cristal”, que por isso mesmo, será o último.
[Pode ler os textos deste número, aqui: http://aculturaeparasecomer.blogs.sapo.pt]

Próxima [a cultura]: “O Prisma de Cristal”

A lógica determinista do PS

Perguntas com respostas. A nota está na coluna da esquerda da página 19 de «A Voz de Loulé», de 1 de Outubro. No início não se percebe de quem é, mas o título diz-nos alguma coisa: “Início caótico do ano lectivo no Algarve!”. Só no fim é que percebemos que se trata de uma nota do Partido Socialista, ou melhor, da presidência da federação do Algarve do PS, ou melhor, do seu chefe de gabinete António Pina. Como se trata de um assunto de educação pensamos que é o mesmo António Pina que exerceu funções de director regional do ministério da educação, no Algarve. Até aqui tudo bem. O que nos surpreende é a leitura de um pequeno excerto: «O que o PS pode prometer aos actores do processo educativo é que lutará pela reposição da normalidade educativa e empenhar-se-à, quando voltar a exercer a governação do País, na reconstrução dos enormes danos causados por este furacão.». Sublinhei “quando voltar a exercer a governação do País”! Porque é que o PS vai voltar a governar? Há algum acordo para o PS se seguir à coligação PSD/PP? Há alguma lógica determinista na história das democracias representativas que defina a alternância sucessiva e exclusiva entre estes três partidos? Podem os “actores do processo educativo”, confiar as suas vidas em quem tem da política esta noção de continuidade dinástica e monárquica de repartição do poder? Pense nas respostas!

terça-feira, outubro 12, 2004

Censura aos blogues?

Depois do Brasil, Portugal. Depois da censura ao blogue brasileiro "Imprensa Marron" http://www.imprensamarrom.com.br/index.php?m=200410#393, de novo no ar, é a vez de Portugal assistir à censura [seja porque razão for] do blogue "Pombalog" http://pombalog.blogspot.com/. Soube-o por aqui http://os-caes-ladram-e-a-caravana-passa.weblog.com.pt/arquivo/156791.html e por aqui http://jornal.publico.pt/2004/10/10/LocalLisboa/LL03.html. Os tempos prometem e qualquer dia temos aí mais uma entidade reguladora.